La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Um poema de P. P. Pasolini por Aurora Bernardini


Ali dos Olhos Claros de Pier Paolo Pasolini (1922-1975)
 da última seção de Poesia in forma di Rosa (1964)


Seleção e tradução de Aurora Fornoni Bernardini

                                                                                                                                                               Alì dagli Occhi Azzurri (2012), film di Claudio Giovannesi

Alì dagli Occhi Azzurri [1]

A Jean-Paul Sartre, che mi ha raccontato la storia di Alì dagli Occhi Azzurri

Alì dagli Occhi Azzurri  -      
uno dei tanti figli di figli,
scenderà da Algeri, su navi
a vela e a remi.Saranno
con lui migliaia di uomini
coi corpicini e gli occhi
di poveri cani dei padri

sulle barche varate nei Regni della Fame. Porteranno con sè i bambini,
e il pane e il formaggio, nelle carte gialle del Lunedì di Pasqua.
Porteranno le nonne e gli asini, sulle triremi rubate ai porti coloniali.

Sbarcheranno a Crotone o a Palmi,
a milioni, vestiti di stracci
asiatici, e di camicie americane.
Subito i Calabresi diranno,
come da malandrini a malandrini:
“Ecco i vecchi fratelli,
coi figli e il pane e formaggio!”
Da Crotone o Palmi saliranno
a Napoli, e da lì a Barcellona,
a Salonicco e a Marsiglia,
nelle Città della Malavita.
Anime e angeli, topi e pidocchi,
col germe della Storia Antica
voleranno davanti alle willaye.

Essi sempre umili
essi sempre deboli
essi sempre timidi
essi sempre infimi
essi sempre colpevoli
essi sempre sudditi
essi sempre piccoli,

essi che non vollero mai sapere, essi che ebbero occhi solo per implorare,
essi che vissero come assassini sotto terra, essi che vissero come banditi
in fondo al mare, essi che vissero come pazzi in mezzo al cielo,

essi che si costruirono
leggi fuori dalla legge,
essi che si adattarono
a un mondo sotto il mondo
essi che credettero
in un Dio servo di Dio,
essi che cantavano
ai massacri dei re,
essi che ballavano
alle guerre borghesi,
essi che pregavano
alle lotte operaie…

... deponendo l'onestà 
delle religioni contadine, 
dimenticando l'onore 
della malavita, 
tradendo il candore 
dei popoli barbari, 
dietro ai loro Alì 
dagli occhi azzurri - usciranno da sotto la terra per uccidere —
usciranno dal fondo del mare per aggredire — scenderanno 
dall'alto del cielo per derubare — e prima di giungere a Parigi 
per insegnare la gioia di vivere, 
prima di giungere a Londra 
per insegnare ad essere liberi, 
prima di giungere a New York, 
per insegnare come si è fratelli 
— distruggeranno Roma 
e sulle sue rovine 
deporranno il germe 
della Storia Antica. 
Poi col Papa e ogni sacramento 
andranno su come zingari 
verso nord-ovest 
con le bandiere rosse 
di Trotzky al vento...

Ali dos Olhos Claros

 A Jean Paul Sartre que me contou a história de Ali dos Olhos Claros.


Ali dos Olhos Claros,
um dos tantos filhos de filhos,
virá da Argélia, em naves
à vela e a remos. Com ele
estarão homens aos milhares
com seus corpinhos e os olhos
de pobres cães de seus pais

nos barcos singrados nos Reinos da Fome. Trarão crianças consigo,
e o pão e queijo, nos papéis amarelos da Segunda de Páscoa, 
Trarão as avós e os asnos, nas trirremes roubadas dos portos coloniais.

Irão desembarcar em Cretone ou Palmi,
aos milhões, cobertos de trapos
asiáticos, e de camisas americanas.
Logo os Calabreses dirão,
como de malandro a malando:
“Lá vêm os velhos irmãos 
com os filhos e o pão e o queijo!”
De Cretone ou Palmi irão subir 
até Nápoles, e de lá a Barcelona,
a Salonico e a Marselha 
nas cidades do Submundo.
Almas e anjos, ratos e piolhos,
com o germe da História Antiga
voarão diante das willaye

Eles sempre humildes   
Eles sempre fracos
eles sempre tímidos
eles sempre ínfimos
eles sempre culpados
eles sempre súditos
eles sempre pequenos,

eles que nunca quiseram saber, eles que tiveram olhos apenas para implorar,
eles que viveram como assassinos sob a terra, eles que viveram como bandidos
no fundo do mar, eles que viveram como loucos no meio do céu, 
eles que se construíram
leis fora da lei,
eles que se adaptaram
a um mundo abaixo do mundo,
eles que acreditaram 
num Deus servo de Deus,
eles que cantavam
nos massacres dos reis,
eles que dançavam
nas guerras dos burgueses,
eles que rezavam 
nas lutas dos obreiros... 

... depondo a honestidade
das religiões campesinas,
esquecendo a honra
do submundo,
traindo a candura
dos povos bárbaros,
atrás de seus Ali
dos Olhos Claros – sairão de volta à terra para matar – 
sairão do fundo do mar para agredir – descerão 
do alto do céu para roubar – e antes de chegar a Paris
para ensinar a alegria de viver,
antes de chegar a Londres
para ensinar a serem livres,
antes de chegar a New York,
para ensinar a serem irmãos
- destruirão Roma
e sobre suas ruínas
deporão o germe
da História Antiga.
Depois com o Papa e cada sacramento
subirão, novos ciganos
rumo ao noroeste 
com as bandeiras vermelhas
de Trótski a vento...


BERNARDINI, Aurora Fornoni. "Um poema de P. P. Pasolini". In Literatura Italiana Traduzida ISSN 2675-4363. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209895

[1] Do livro Il libro delle croci, de 1964.


como citar: BERNARDINI, Aurora. Um poema de P. P. Pasolini . In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.4, abril. 2020.Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209895