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Literatura Italiana Traduzida ISSN 2675-4363
Agnes Ghisi
Giorgio Caproni
tradução
em
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La Vague, de Mario Ceroli |
Il Mare Come Materiale
allo scultore Mario Ceroli
Scolpire il mare...
Le sue musiche...
Lunghe,
le mobili sue cordigliere
crestate di neve...
Scolpire
- bluastre - le schegge
delle sue ire...
I frantumi
- contro murate o scogliere -
delle sue euforie...
Filarne il vetro in làmine
semiviperine...
In taglienti
nastri d'alghe...
Fissarne
- sotto le trasparenti
batterie del cielo - le bianche
catastrofi...
Lignificare
le esterrefatte allegrie
di chi vi si tuffa...
Scolpire
il mare fino a farne il volto
del dileguante...
Dire
(in calmerìa o in fortunale)
l'indicibile usando
il mare come materiale...
Il mare come costruzione...
Il mare come invenzione...
Il Mare come Materiale é um poema de Giorgio Caproni, presente na coletânea Il Conte di Kevenhüller (1986) e é dedicado ao escultor Mario Ceroli. Escrito na "fase final" do poeta, este é um poema cujos versos se movimentam no branco da página: no início, temos um mar calmo... reticente.... Que então vai se agitando, e ocupando a página com seu movimento, quebrando os versos, encadeando as frases; o movimento se dá também pela constante ação, exposta pelos verbos que, por vezes, se repetem: scolpire, scolpire, filarne, fissarne — e aqui podemos ainda destacar a partícula partitiva "ne", como se, de fato, fosse possível separar um pedaço de mar, reinventá-lo, reformulá-lo, transferi-lo para um verso numa página em branco, ou para um pedaço de madeira numa escultura; como se o mar pudesse ser reinventado —, lignificare, scolpire, e por fim, dire. Um movimento que cessa (no poema, reticente) no limite do impossível: a (re)invenção do mar enquanto novo material, poético e artístico. O mar enquanto palavra, enquanto peça de madeira ou vidro, moldáveis.
A invenção da escultura e do poema, que não são o mar, mas algo à parte dele, que busca representá-lo usando novos materiais — a dureza da madeira, a labilidade da palavra, a fragilidade perigosa do vidro —, uma invenção construída e elaborada, que é tão selvagem quanto o próprio mar, tão indiscernível em seu instante quanto este, pois se mantém em movimento. É "a ideia da poesia como ficção e engano [...] encenando uma realidade realíssima: aparência e dissolvência", portanto, não um realismo, mas sim "uma poética do real" (PETERLE, 2017, p. 24), e da mesma maneira a escultura: um movimento do real, numa ilusão.
A invenção da escultura e do poema, que não são o mar, mas algo à parte dele, que busca representá-lo usando novos materiais — a dureza da madeira, a labilidade da palavra, a fragilidade perigosa do vidro —, uma invenção construída e elaborada, que é tão selvagem quanto o próprio mar, tão indiscernível em seu instante quanto este, pois se mantém em movimento. É "a ideia da poesia como ficção e engano [...] encenando uma realidade realíssima: aparência e dissolvência", portanto, não um realismo, mas sim "uma poética do real" (PETERLE, 2017, p. 24), e da mesma maneira a escultura: um movimento do real, numa ilusão.
Maestrale é outra escultura do mar feita por Ceroli, dessa vez com cores e brilhos que também enganam o olhar, apresentando a ilusão de uma parte do indivisível. Destacamos um trecho da tradução de Aurora Fornoni Bernardini, que segue completa abaixo, para se pensar essa segunda escultura: Fiar seu vidro em lâminas / semiviperinas... // Em cortantes / fitas d'alga... // Fixar / - sob as transparentes / baterias do céu - suas brancas / catástrofes...
de quem nele mergulhar...
de quem desaparece...
o indizível usando
O Mar como Material
ao escultor Mario Ceroli
Esculpir o mar...
As suas músicas...
Longas,
suas móveis cordilheiras
crestadas de neve...
crestadas de neve...
Esculpir
- azuladas -as lascas
de suas iras...
de suas iras...
Os cacos
- contra muralhas ou rochedos -
duas suas euforias...
Fiar seu vidro em lâmina
semiviperinas...
Em cortantes
fitas d'algas...
fitas d'algas...
Fixar
-sob as transparentes
baterias do céu - suas brancas
baterias do céu - suas brancas
catástrofes...
Lignificar
as estupefatas alegriasde quem nele mergulhar...
Esculpir
o mar até torná-lo o rostode quem desaparece...
Dizer
(na calmaria ou na tempestade)o indizível usando
o mar como material...
O mar como construção...
O mar como invenção...
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PETERLE, Patricia. "Introdução". In: CAPRONI, Giorgio. A porta morgana: ensaios sobre poesia e tradução. Prefácio, Enrico Testa; organização e tradução, Patricia Peterle. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017, pp. 17 - 38.
CAPRONI, Giorgio. "Il mare come materiale". In: A coisa perdida: Agamben comenta Caproni. Org. e trad. Aurora Fornoni Bernardini. Florianópolis: EdUFSC, 2011, pp. 288 - 291
CAPRONI, Giorgio. "Il mare come materiale". In: A coisa perdida: Agamben comenta Caproni. Org. e trad. Aurora Fornoni Bernardini. Florianópolis: EdUFSC, 2011, pp. 288 - 291
como citar: GHISI, Agnes. O Mar Como Material: escultura e poesia. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.6, jun. 2020.Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209777
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