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Literatura Italiana Traduzida ISSN 2675-4363
Cecilia Meirelles
Mariarosaria Fabris
poesia de mulheres
em
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Em memória de Edoardo
Bizzarri
Ti lascio paese dei sogni,
paese d’amore,
e porto con me questo piccolo
tuo souvenir.
È solo una bianca conchiglia
con l’eco del
mare...[1]
A letra desta canção de
1954 começou a ecoar em minha cabeça enquanto relia a coletânea Poemas italianos, de Cecília Meireles,
que reúne as composições poéticas escritas durante sua viagem à Itália em
março-abril de 1953, quando, segundo Edoardo Bizzarri, visitou Roma, Nápoles,
Pompéia, Sorrento, Salerno, de novo Roma, Florença, Pistóia, San Gemignano,
Siena, Pisa, Veneza e Milão[2]. Como quase todo viajante que,
de regresso ao lar, as traz na bagagem, a poetisa também providenciou algumas
lembranças:
compraremos tudo, para todos os
parentes e conhecidos – camafeus claros e escuros; com dançarinas de véus ao
vento, perfis de deuses, amores alados... [...] Disputamos o mostruário todo,
nunca vimos prodígio igual, abotoaremos todos os nossos vestidos com estes
broches, sairemos daqui ilustrados, de alto a baixo, de figuras e cenas da
Mitologia! Felizmente, o ônibus tem de partir, e todos nos atropelamos com
embrulhos, troco, e a eterna melancolia turística: há sempre uma coisa mais
bonita, que não tivemos tempo de comprar![3]
Os mais belos suvenires que
a escritora trouxe da Itália, porém, devem ter sido aquelas páginas de diário
em forma de poesia, nas quais registrou impressões instantâneas sobre os
lugares percorridos, que, posteriormente, se esparramarão em mais um punhado de
poemas compostos no Rio de Janeiro[4] e numa série de crônicas
publicadas no jornal carioca Diário de
Notícias entre 1955 e 1956. Porque ela, mais do que turista, era uma
viajante:
O turista feliz já está
em sua casa, com fotografias por todos os lados, listas de preços, pechinchas
dos quatro cantos da Terra. E o viajante apenas inclina a cabeça nas mãos, na
sua janela, para entender dentro de si o que é o sonho e o que é verdade. E
todos os dias são dias novos e antigos, e todas as ruas são de hoje e da
eternidade: e o viajante imóvel é uma pessoa sem data e sem nome, na qual
repercutem todos os nomes e datas que clamam por amor, compreensão,
ressurreição[5].
Dentre os quarenta e oito
poemas vertidos para o italiano, comentados e reunidos por Bizzarri no volume
supracitado em 1968[6],
escolhi alguns para dar uma ideia do olhar que a autora lançou sobre a cultura
italiana, os recantos visitados; quais foram as sensações e as emoções despertadas
pelo contato com aquela terra de histórias milenares.
Das três composições
dedicadas a Nápoles[7],
a mais expressiva é a que descreve um almoço no tradicional restaurante “Ciro”
– à sombra do Castel dell’Ovo, no Borgo Marinari –, o qual, em 1952, começou
a afirmar-se como um dos melhores da cidade:
Tão gorda que era, a cantora,
que entre mil aplausos veio!
Mas era bela a cantiga,
levantada entre os seus olhos
e os castelos do seu peito.
Mas era bela a cantiga,
entre azeite, limões, ostras...
E o garfo enrolava as massas,
e as travessas transbordavam
de frangos e de alcachofras.
O garfo enrolava as massas.
As pessoas que comiam
eram cada vez mais gordas,
e também cantarolavam,
e iam comendo cantigas.
Eram cada vez mais gordas,
mais alegres, mais felizes.
Os gatos pelas cadeiras,
coligiam velhos sonhos
de descendentes de tigres.
Os gatos pelas cadeiras
piscavam para os talheres...
(O Pausilipo sonhava...
No golfo corriam barcos,
cada vez mais para Leste...)[8]
Na já citada crônica “Ver
Nápoles e...”, a poetisa assim evocou a pantagruélica refeição de dois anos
antes:
Agora
almoçaremos no “Ciro”, onde há travessas colossais de massas e de mariscos;
onde procuro alcachofras, que são a minha maior tentação na Itália; onde há um
gato indolente, que me parece egípcio, pré-histórico, cheio de sabedoria
secreta; onde há uma cantora de peito poderoso que sobe e desce como um par de
barcos num oceano tempestuoso, enquanto sua voz acrobática enche de música
nossos ouvidos e nossa alma.[9]
Das outras três cidades
da Campânia que a escritora visitou, Salerno não mereceu nenhum poema, enquanto
foi mais generosa com “Sorrento – a sorridente”; “Pompéia, a sufocada em
cinzas”[10], no entanto, parece ter
sido a que mais a impressionou e numa das composições interrogou os que
sucumbiram à mortal chuva expelida pelo Vesúvio no dia da fatídica extinção da
urbe romana:
Vós,
os que vistes Deus, como ficastes?
boca
entreaberta e pálida de mortos,
cinza
de grito, arquejo de saudades...
(Esse véu
pelos olhos, de cegueira,
esse frio
de pasmo sobre a pele,
e a dor da
vida, lânguida e imperfeita...)
Vós,
os que vistes Deus, e estais sofrendo,
e
sentis pelo corpo o que era carne
desencadear-se
em puro pensamento,
sois agora
um jardim desesperado:
– que o
vento que corria era de fogo,
e a água um
abismo tumultuoso e amargo.
Deus súbito, imprevisto Deus de assombros,
sem
aviso ou perdão. Como ficastes,
vós,
os que vistes Deus, e hoje sois outros?[11]
E a viajante brasileira
percorreu as ruas da cidade morta com seu Fórum, o Anfiteatro, as casas com suas
decorações murais e seus jardins guardadas por cachorros – “Cave Canem! – avisa o mosaico, /.../
Mas o cão é uma figura imóvel, /.../ um desenho no chão”[12] –, suas lojas, as termas,
os templos, os antigos túmulos da Strada
dei Sepolcri:
Pompéia não
é triste, mas o seu velho esplendor, subitamente apagado, convida à reflexão. O
morto encolhido em suas cinzas, com os dentes à mostra, o cãozinho torcido no
seu estertor ficam ali, negros e eternos, enquanto o Sol doura as colunas, os
jardins, as estátuas e os arbustos. [...]
Mas é como
se todos estivessem para sempre vivos, e as águas cantassem, e os banhistas
fossem para as termas e as famílias se preparassem para algum espetáculo, [...]
e os políticos estivessem ativamente preocupados com suas eleições, e os
meninos desenhassem e escrevessem pelos muros suas torpezas, e as flores
desabrochassem nos jardins e os homens bebessem pelas tavernas. Tudo está
presente, não apenas os mortos que foram moldados na sua cinza. Tudo está vivo
e feliz, redimido pela rude morte. Tudo está leve como os pequenos “amores” e
“hermes”, que, alados, pairam pelas paredes, ao longo das frisas, ou pelos
jardins ou pelos átrios, refletidos no espelho d’água.[13]
Saindo do Sul e pulando
as etapas romanas, por enquanto, ao seguir o itinerário ceciliano, chega-se à
Toscana, cuja capital impressiona a escritora por suas construções, como
registrado na crônica “Voz em Florença” (15 abr. 1955):
Seus
palácios se equilibram com uma exatidão de jogo geométrico, sem superfluidades
ou divagações arquitetônicas. [...] Dentro dela, não se avistam jardins, nem
árvores, – mas fachadas, colunas, torres, escadas, arcos, nichos com santos,
estátuas, galerias. [...] Mesmo a curva das portas e janelas é uma concentração
de linhas retas.
Essa elegância
de Florença é uma das suas forças de deslumbramento. Sua arquitetura contém um
potencial de silêncio que conduz ao êxtase... Olha-se de repente para o meio da
cidade e encontra-se ali, ao alcance da mão, o Duomo da Catedral de Santa Maria
del Fiore: o Duomo, que é como uma tulipa fechada, que é como um coração de
pedra pousado numa praça. Daí em diante, o passeio torna-se completamente
lírico.[14]
Sob o impacto de suas
andanças por “ – Florença florente flor... – / para sempre, para
sempre.”, como escreveu mais tarde no já citado “Voto”, a poetisa compôs
“Discurso ao ignoto romano”, sobre um escultor anônimo cuja obra contemplou na Galleria degli Uffizi[15],
e “Pedras de Florença”, talvez o que melhor expresse as emoções nela
despertadas pela cidade:
Ó pedras de Florença,
onde os dias são mansos
como pombos dormentes,
e as vozes se desmancham
com doce antiguidade...
Viva é
sempre a memória
dos poetas,
entre estátuas,
e na sombra
das pontes,
há uma
cinza de encontros...
Ó pedras de Florença
que o tempo eternamente
contorna, alisa, brune,
torres, loggias, fachadas...
E não falo
das lajes
onde os
vivos resvalam,
nem dos
muros perfeitos
onde os
perfis despertam
a sua
eternidade.
Falo das pedras simples
dos frios cemitérios,
esses marmóreos livros
de tão polidas páginas,
dessas letras de adeuses,
de eloquente saudade,
tão comovida e terna
gentileza das lágrimas.
Ó pedras de
Florença,
mãos de
lírio pousadas
no
horizonte do mundo,
junto a
praia das almas...[16]
Na manhã de 9 de abril de
1953, Cecília Meireles visitou um lugar muito especial:
A
insistência daquela placa pelas esquinas: “Cemitério Militar Brasileiro”... Um
cemitério tão claro, tão sereno, protegido, ao longe, pela moldura suave das
montanhas. Um cemitério de jovens – sem tristeza. A tristeza é ver como ficam
os capacetes dos soldados, depois de uma rajada de metralhadora. E recordar
que, dentro daquele capacete, esteve uma cabeça querida. Ou mesmo uma cabeça
qualquer. Mas os fazedores de guerra são lá criaturas humanas![17]
Ao regressar a Florença,
naquela mesma tarde, a escritora expressou em versos as impressões de sua breve
estada em Pistoia:
Eles vieram felizes, como
para grandes jogos atléticos,
com um largo sorriso no rosto,
com forte esperança no peito,
– porque eram jovens e eram belos.
Marte,
porém soprava fogo
por estes
campos e estes ares.
E agora
estão na calma terra,
sob estas
cruzes e estas flores,
cercados
por montanhas suaves.
São como um grupo de meninos
num dormitório sossegado,
com lençóis de nuvens imensas,
e um longo sono sem suspiros,
de profundíssimo cansaço.
Suas armas
foram partidas
ao mesmo tempo que seu corpo.
E, se acaso
sua alma existe,
com
melancolia recorda
o
entusiasmo de cada morto.
Este cemitério tão puro
é um dormitório de meninos:
e as mães de muito longe chamam,
entre as mil cortinas do tempo,
cheias de lágrimas, seus filhos.
Chamam por
seus nomes, escritos
nas placas
destas cruzes brancas.
Mas, com
seus ouvidos quebrados,
com seus
lábios gastos de morte,
E as mães esperam que ainda
acordem,
como foram, fortes e belos,
depois deste rude exercício,
desta metralha e deste sangue,
destes falsos jogos atléticos.
Entretanto,
céu, terra, flores,
é tudo
horizontal silêncio.
O que foi
chaga é seiva e aroma,
– do que
foi sonho não se sabe
e a dor anda longe, no vento...[18]
Se, na composição de
1953, Cecília Meireles se detém nas lágrimas das mães saudosas, numa lírica
anterior, que integra a coletânea Mar
absoluto e outros poemas (1945), recolhe o pranto de uma das muitas
mulheres que esperaram em vão o regresso de seus companheiros. Trata-se de
“Lamento da noiva do soldado”, cujos versos finais parecem remeter aos campos
de batalha da Itália naquele trágico inverno de 1944-1945: “Cai neve nos teus
pés, no teu peito, no / teu coração... Longe e solitário... Neve, neve... / E
eu fervo em lágrimas, aqui!”[19]. À Segunda Guerra Mundial,
a autora dedicou ainda composições como “Balada do soldado Batista”, “Lamento
do soldado por seu cavalo morto”, “Guerra”, “Os homens gloriosos”, “Jornal,
longe” e “Declaração de amor em tempo de guerra”.
A viagem rumo ao Norte prosseguiu
até Milão – que parece não ter inspirado muito a escritora, a qual só lhe
dedicou o poema “O santo”[20] –, com uma etapa
intermediária na “Cidade líquida”, como ela a denominou:
Às nove
horas estávamos ainda em Florença, e eis que nos aproximamos de Veneza, onde
almoçaremos. Muito pensamento e muito amor se vai deixando por toda parte.
Igrejas, palácios, praças, estátuas, pinturas, ruas, pessoas [...].
E foram
ficando lugares, lugares com árvores que começavam a sentir a primavera. Campos
de um verde discreto, como o das tapeçarias antigas. Cidades, de repente
encontradas, e logo distantes. Pessoas entretidas em seus ofícios. E a riqueza
histórica de cada sítio, que acorda no simples nome indicado no mapa...[21]
É a Toscana que ficou
para trás: não apenas Florença e Pistóia, como ainda Pisa e Siena, sobre as quais
não há registros poéticos, mas desta, na crônica “Da ruiva Siena” (29 abr.
1956), a escritora lembrou das impressões de Michel de Montaigne quando a
visitou[22]; San Gemignano, evocada
no já citado poema “Mensagem”, dedicado ao guia anônimo que lhe confidenciou não
poder aceitar uma bala por estar com um dente cariado: “– nunca ninguém me fez
tão pura e simples confidência” –, e na crônica “Uma hora em San Gimignano” (13
maio 1956), em que descreveu uma pitoresca festa tradicional[23]; e Fiésole, que não
consta da lista elaborada por Bizzarri, mas foi lembrada num parágrafo da
crônica veneziana: “Ficou para trás Fiésole, com seus ciprestes, onde se sente
melhor o silêncio, e a alma se reconcilia com o mundo, e chega-se a admitir que
não é sempre uma indignidade viver”.[24]
Veneza acolheu a viajante
sob chuva: “Como subir a grande escada, / se a chuva cai
soberbamente, / toda em cascata derramada?”[25], perguntou-se ao visitar
o Palácio dos Doges, o que não lhe impediu de percorrer outros pontos da
cidade:
E o Canal a oscilar as longas água
plúmbeas,
e a voz do gondoleiro a ecoar em
muros úmidos,
a abrir passagem nas estreitas ruas
líquidas...
Ouro, negro, escarlate, essas cores
da gôndola,
e seu fino perfil, tragicamente lírico:
– harpa, sereia, cimitarra – transformando-se...
Este fundo de mar, estes mortos crustáceos,
este limo, esta sombra, e esta ramagem límpida,
nos remos – franja vã de esmeraldas e pérolas.
Ah! o tempo concentrado entre as pontes
e a névoa,
e as escadas à chuva, e à solidão
levando-nos.
E os olhos cheios de mosaicos e de lágrimas...
Labirintos de calcedônias e crepúsculos.
Guardai meu sonho que deixei sobre relíquias,
na asa dos pombos, e na vasta, insigne púrpura
dos rododendros,
fugitivos como pássaros...[26]
Nesta cidade onde “a água
começa logo que se deixa o trem”, o sol, embora invocado, não resplandeceu
sobre “torres, agulhas, cúpulas, arcos, varandas”, que a chuva apaga. “Apaga
todos os palácios, bizantinos, góticos, renascentistas... E as pontes... E as
águas E o ar...”. Os pombos de Praça São Marco, no entanto, parecem não se
incomodar com ela; então só resta imitá-los:
Iremos por
essas ruas, quase constantemente d’água, passaremos uma pequena ponte,
chegaremos a uma casa antiga, com tetos de traves, grandes arcos ogivais, um
odor e um silêncio de tempo imóvel: e assistiremos ao nascimento das rendas.
[...]
Olharemos
para essas belas coisas com certa melancolia, pensando naquele verso de Rilke
que fala nos olhos das rendeiras deixados sobre as rendas. O que há, nestes
desenhos, além dos fios! O que não se vê, sendo tão presente! Falas, cenas,
todo o teatro da vida, entre estas leves flores e estes delicados arabescos.
[...]
E com a
chuva andaremos pelas pontes, subindo e descendo entre canais, como um carrossel
d’água. E d’água parecerão os vidros de Murano, com suas flores, seus pássaros,
seus animais marinhos – naturezas mortas e transparentes, orvalhadas de ouro,
que parecem mesmo nascidas do mar e do Sol.[27]
Do alto do Campanile,
veremos a cidade líquida – Veneza reclinada em almofadas d’água, com os cabelos
d’água descendo até os pés, e as rendeiras a tecerem vestidos d’água, e os
vidros soprados d’água como bolhas de cristal, búzios, sereias...[28]
Foi com essa visão poeticamente
plúmbea de uma cidade que esperava encontrar em seu pleno fulgor que Cecília
Meireles se despediu de Veneza. Minha viagem pela Itália nas pegadas da
escritora brasileira, porém, não termina aqui, porque faltou abordar as poesias
dedicadas a Roma, mas elas serão objeto de uma segunda parte deste diário ceciliano.
_________________________
Como citar: FABRIS, Mariarosaria. "Souvenir d’Italie: diário ceciliano (primeira parte)", v. 2, n. 8, ago. 2021. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/ handle/123456789/225649
[1] Tradução livre: “Deixo-o país dos
sonhos, / país de amor, / e levo comigo este pequeno / seu souvenir. / É só uma branca concha / com o eco do mar...”. Souvenir d’Italie (1954), de Lelio
Luttazzi, Giulio Scarnicci e Renzo Tarabusi, integra um grupo de canções que,
naquela década, promoveram as atrações turísticas da Itália, como Arrivederci Roma (1955), de Renato
Rascel e Pietro Garinei, ou Che m’è
‘mparato a fa’ (1956), de Armando Trovajoli e Dino Verde, ou ainda Fontana di Trevi, versão italiana de Three coins in the fountain (1954), de
Jule Styne e Sammy Cahn, popularizada pelo filme homônimo de Jean Negulesco (A fonte dos desejos, no Brasil), na voz
de Frank Sinatra.
[2] Cf. BIZZARRI, Edoardo.
[Introdução]. In: MEIRELES, Cecília. Poemas
italianos. São Paulo: Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, 1968, p. 5.
[3] MEIRELES,
Cecília. “Ainda Nápoles”. In: Melhores
crônicas. São Paulo: Global, 2003, p. 238. Neste volume organizado por
Leodegário A. de Azevedo Filho, as crônicas não trazem nem a data, nem o
veículo de divulgação.
[4] São eles: “Geografia”
e “Voto” (1954), “Os aquedutos” (jan. 1955), “Diana” (fev. 1955), “Adolescente
romano” (jun. 1955), “Canção de Sorrento” (1956) e, provavelmente, “Mensagem”
(sem data). Cf. BIZZARRI, Edoardo. “Cronologia e notas”. In: MEIRELES, Poemas italianos, cit., pp. 154-157.
[5] MEIRELES, Cecília. “Roma, turistas
e viajantes”. In: Melhores crônicas,
cit., p. 260.
[6] A coletânea Poemas italianos concebida pela autora era constituída de quarenta
e seis composições, às quais o tradutor, com o objetivo de agrupar todas as
líricas inspiradas pela Itália, acrescentou, como apêndice, a supracitada “Voto”,
precedida de “Pequeno oratório de Santa Clara”, composta em 1953, no Rio de
Janeiro, para uma publicação portuguesa em comemoração do sétimo centenário da
fundadora da ordem das Clarissas. A editora carioca Philobiblion, em 1955,
lançou uma nova edição do poema, em caixa de madeira pintada que simulava um
oratório. Cf. BIZZARRI, [Introdução], cit., p. 5; BIZZARRI,
“Cronologia e notas”, cit., p. 157; Cf. LÔBO, Yolanda. Cecília
Meireles. Recife:
Fundação Joaquim Nabuco-Editora Massangana, 2010, p. 90. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/download/
texto/me4694.pdf. Consultado em: 5 maio 2021.
[7] Além da composição reproduzida
neste texto, a escritora dedicou à cidade cuja “paisagem transforma qualquer
desgosto em beleza” os poemas “Ritmo de Nápoles” e “Granja”, sobre uma vaca
prenha prestes a parir, cujo “gracioso bezerrinho que se aproxima ainda muito
desconfiado deste mundo que está pisando”, o leitor encontrará na crônica “Ver Nápoles
e...” (4 mar. 1955). Apud: BIZZARRI, “Cronologia e notas”,
cit., pp. 151-152.
[8] Tradução: “Come era grassa la cantante, / che apparve tra mille
applausi! / Ma bella era la canzone, / che si alzava tra gli occhi / ed i
castelli del petto. // Ma bella era la canzone, / tra ostriche, olio e limoni.
/ Forchette avvolgevan spaghetti / e i piatti trasbordavano / di polli e di
carciofi. // Forchette avvolgevan spaghetti. / E le persone che mangiavano /
erano sempre più grasse, / e insieme cantarellavano e andavan mangiando
canzoni. // Erano sempre più grasse, / più allegre, più felici. / I gatti tra
le sedie / raccoglievano vecchi sogni / di discendenti di tigri. // I gatti tra
le sedie / occhieggiavano le posate... / (Posillipo sognava... / Nel golfo correvano
barche / sempre più verso Oriente...)”. MEIRELES, Cecília. “Oleogravura napolitana”;
“Oleografia napoletana”. In: Poemas
italianos, cit., pp. 23, 22.
[9] Apud: BIZZARRI, “Cronologia e notas”, cit., p. 151.
[10] Expressões extraídas da já citada
“Ver Nápoles e...”. À bela cidade costeira ao sul de Nápoles, a poetisa dedicou
as líricas “Canção de Sorrento” e “Nova Madona em Sorrento”, e a crônica
“Quando a vaga beija o vento” (1º abr. 1956).
[11] Tradução: “Voi, che vedeste Dio, cosa provaste? / bocca dischiusa e
pallida di morti, / cener di grido, affanno di rimpianti... // Quel vel di
cecità sugli occhi, e il freddo, / d’angoscia sulla pelle, ed il dolore / della
vita, languente ed imperfetta... // Voi, che vedeste Dio, e pur soffrite, / e
sentite nel corpo quel che era / carne disfarsi in semplice pensiero, // siete
adesso un giardino disperato: / – il vento che correva era di fuoco, / l’acqua
un tumultuoso abisso e amaro. // Dio subito e imprevisto dei terrori, / senza
avviso e perdono. Che provaste, / voi, che vedeste Dio e siete oggi altri?”.
MEIRELES, Cecília. “Pompéia”; “Pompei”. In: Poemas
italianos, cit., pp. 61, 60.
[12] Tradução: “Cave Canem! –
avvisa il mosaico, /.../ Ma il cane è una figura immobile, /.../ un disegno sul
pavimento”. MEIRELES,
Cecília. “Cave canem”; “Cave canem”. In: Poemas
italianos, cit., pp. 65, 64. Na entrada de algumas casas romanas, havia um
mosaico no chão com a figura de um cachorro preso numa corrente e a inscrição
“Cave canem” (“Cuidado com o cão”). À cidade soterrada em 79 d.C., a escritora
dedicou mais um poema intitulado “Pompéia”, além de “O que me disse o morto de
Pompéia” e “Prenúncio em Pompéia”.
[13] MEIRELES, Cecília. “Ainda
Nápoles”. In: Melhores crônicas,
cit., p. 242. O segundo parágrafo deste trecho é também citado, com algumas
variações, como um excerto da crônica “Morte viva e feliz” (18 mar.1956). Cf. BIZZARRI, “Cronologia e notas”, cit., pp.
152-153.
[14] Apud: BIZZARRI, “Cronologia e notas”, cit., pp. 156-157.
[15] Tradução: “ – Firenze fiorente fiore... – / per sempre, per sempre”.
MEIRELES, Cecília. “Voto”; “Voto”; “Discurso ao ignoto romano”; “Discorso
all’ignoto romano”. In: Poemas italianos,
cit., pp. 149, 148, 19, 21, 18, 20. Cf. BIZZARRI, “Cronologia e notas”, cit.,
pp. 157, 151.
[16] Tradução: “O pietre di Firenze, / dove i giorni son miti / come colombi
dormenti, / e le voci si disfano / con dolce antichità... // È sempre vivo il
ricordo / dei poeti, tra le statue, / e nell’ombra dei ponti, / c’è cenere
d’incontri... // O pietre di Firenze / che il tempo eternamente / contorna,
liscia, imbruna, / torri, logge, facciate... // Non parlo delle lastre / su cui
i vivi sorvolano, / né dei muri perfetti / ove i profili svelano / la loro
eternità. // Ma delle pietre semplici / dei freddi cimiteri, / di quei marmorei
libri / di sì polite pagine, / e lettere d’addio, / d’eloquente rimpianto, / di
sì commossa e tenera / gentilezza di lagrime. // O pietre di Firenze, / mani di
giglio posate / sull’orizzonte del mondo, / presso la riva dell’anime...”. MEIRELES, Cecília. “Pedras de
Florença”; “Pietre di Firenze”. In: Poemas
italianos, cit., pp. 119, 121, 118, 120.
[17] MEIRELES, Cecília. “Cidade
líquida”. In: Melhores crônicas,
cit., pp. 243-244. Cf. BIZZARRI, “Cronologia e notas”, cit., pp. 157, 151. A
crônica foi publicada em 27 maio 1956.
[18] Tradução: “Felici essi vennero, come / per grandi gare sportive, / con
largo sorriso sul volto, / con forte speranza nel petto, / – perch’erano
giovani e belli. // Ma Marte soffiava fuoco / in questi campi e in quest’aure.
/ E ora stanno nella terra calma, / sotto queste croci e questi fiori, / cinti
di soavi montagne. // Son come un gruppo di bimbi / in un dormitorio tranquillo,
/ con lenzuola d’immense nubi, / e un lungo sonno senza sospiri, / di
profondissima stanchezza. // Le loro armi furono spezzate / insieme con il loro
corpo. / E se per caso hanno un’anima / con malinconia ricordano / l’entusiasmo
di ogni morto. // Questo cimitero sì puro / è un dormitorio di bimbi: / e le
madri da lunge chiamano, / tra le mille cortine del tempo, / piene di lagrime,
i loro figli. // Chiamano i loro nomi, scritti / sulle placche delle croci
bianche. / Ma, con le orecchie spezzate, / con le labbra corrose dalla morte, /
come rispondere, queste creature? // Quelle ancor sperano che si destino, / tal
quali furono, forti e belli, / dopo questo rude esercizio, / questa mitraglia e
questo sangue, / queste false gare sportive. // Intanto, e cielo, e terra, e
fiori, / tutto è orizzontale silenzio. / Quel che fu piaga, è linfa e aroma, /
– di quel che fu sogno non si sa / e il dolore va lontano, nel vento”. Em 1955, a Philobiblion publicou o
poema em formato de plaquete, de dezesseis páginas, com xilogravuras de Manuel
Segalá. O livro foi relançado em 2016 pela editora Global de São Paulo. MEIRELES,
Cecília. “Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro”; “Pistoia, Cimitero Militare
Brasiliano”. In: Poemas italianos,
cit., pp. 79, 81, 78, 80. Cf. “Instruções ao invisível#2/Boletim Biblioteca
MAMM/Véus da memória”. Disponível em http://www.museudeartemurilomendes.com.br/r/
instrucao2/. Acesso em: 3 maio 2021.
[19] MEIRELES, Cecília. “Lamento da
noiva do soldado”. In: Poesia completa.
2 v. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001, v. I, p. 481.
[20] A lírica foi escrita depois da
visita à subterrânea capelinha octogonal da catedral de Milão, onde, numa urna
de prata e cristal, repousam os restos mortais de São Carlos Borromeo. A
profunda religiosidade de um casal de camponeses ali presentes impressionou a
autora: “Quietas, humildes, contritas, / guardavam as mãos, unidas, / e a alma
ajoelhada nos olhos, / naquele túmulo postos”. Tradução:
“Umili, quiete, compunte, / tenevan le mani, unite, / l’alma genuflessa negli
occhi, / sopra quel tumulo fissi”. MEIRELES,
Cecília. “O santo”; “Il santo”. In: Poemas
italianos, cit., pp. 115, 117, 114, 116. Cf. BIZZARRI, “Cronologia e
notas”, cit., p. 156.
[21] MEIRELES, “Cidade líquida”, cit.,
pp. 243-244.
[22] Cf. LOPES, Delvanir. “Roma pelos
olhos de Cecília Meireles”. Veredas:
Revista da Associação Internacional de Lusitanistas. Coimbra, n. 29,
jan.-jul. 2018, p. 21. Disponível em http://dx.doi.org/10.
242661/2183-816x0229. Acesso em: 1º maio 2021.
[23] Tradução: “– mai nessuno mi fece così pura e semplice confidenza”. MEIRELES, Cecília. “Mensagem”;
“Messaggio”. In: Poemas italianos,
cit., pp. 113, 112. Cf. BIZZARRI, “Cronologia e notas”, cit., pp. 155-156.
[24] ]MEIRELES, “Cidade líquida”, cit.,
p. 243.
[25] Tradução: “Come salire la grande scalinata, / se sì superba viene giù
la pioggia, / che si riversa simile a cascata”. MEIRELES, Cecília. “Chuva no
Palácio dos Doges”; “Pioggia sul Palazzo dei Dogi”. In: Poemas italianos, cit., pp. 105, 104.
[26] Tradução: E il Canale che oscilla le lunghe acque plumbee, / e la voce
del gondoliere che echeggia nei muri umidi, / facendosi strada nelle strette
vie liquide... // Oro, nero, scarlatto, questi colori della gondola, / e il suo
fino profilo, tragicamente lirico: / – arpa, sirena, scimitarra –
trasformandosi... // Questo fondo di mare, questi morti crostacei, / questo
limo, quest’ombra, e queste limpide fronde, / nei remi – frangia vana di
smeraldi e di perle. // Ah! il tempo concentrato tra i ponti e la nebbia, / e
le scalinate che adducono alla pioggia, alla solitudine. / E gli occhi pieni di
mosaici e di lagrime... // Labirinti di calcedoni e di crepuscoli. / Conservate
il sogno che lasciai sopra le reliquie, / nell’ala dei colombi, e nella vasta
insigne porpora // dei rododendri, fuggitivi come uccelli...”. MEIRELES, Cecília. “Pintura de
Veneza”; “Pittura di Venezia”. In: Poemas
italianos, cit., pp. 129, 128.
[27] A autora dedicou um poema à
habilidade dos vidreiros de Murano: “Quando o lustre se acendeu, / [...] / – abriu-se
na noite um mundo de cristal, / cantaram pássaros de repente, / [...] / – houve
um céu novo, ramagens de jardins, / praias com sereias, conchas, peixes e
barcos... // Deuses antigos se levantaram, / orvalhados de ouro e de mar...”. Tradução:
“Quando il lampadario si accese, / [...] / – s’aprì nella notte un mondo di
cristallo, / di repente cantarono uccelli, / [...] / – ci fu un cielo nuovo,
fogliame di giardini, / spiagge con sirene, conchiglie, pesci e barche... //
Antiche divinità si alzarono, / rugiadose d’oro e di mare...”. MEIRELES, Cecília. “O lustre”; “Lampadario”.
In: Poemas italianos, cit., pp. 97, 96.
[28] MEIRELES, “Cidade
líquida”, cit., pp. 244, 248-249, 246, 247.
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