La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Boccaccio: o Decameron, por Nirvana Dorneles





Boccaccio, considerado por muitos estudiosos um dos precursores do humanismo e um dos maiores poetas da Itália, ao lado de Dante e Petrarca, apresenta narrativa de retórica medieval, com uso de rimas, e sobretudo, aprofunda a relação com a prosa latina antiga adaptando o vernáculo.

Autor do Decameron, uma obra-prima que atravessa gerações sem deixar de fascinar seus leitores, Giovane Boccaccio, nasceu em 1313, filho de um abastado mercador, pertencente à burguesia mercantil. O pai de Boccaccio queria colocá-lo em uma posição dentro do comércio, por isso o envia a Nápoles para estudar e trabalhar com as finanças. Apesar da aversão aos negócios, é em Nápoles que Boccaccio começa a tecer uma rede de amizades interessantes, tornando-se um assíduo frequentador da corte napolitana, vivendo num ambiente refinado, alegre, culto e aristocrático. Sob essa influência, dedica-se ao estudo das Letras. Retorna a Florença depois de dezesseis anos para retomar os negócios de família, pois seu pai, maltratado pela peste que o levaria à morte, perdera tudo. A mesma peste que, em 1348 arruinou Florença, matando um terço da população da Europa, e o inspirou a escrever sua grande obra, o Decamerão, como aparece em algumas traduções.

O Decameron reúne cem pequenos relatos contados por um grupo de sete moças e três rapazes, que se refugiam nas montanhas para fugir da peste que aniquilava Florença. Eles se recolhem e, para passar o tempo e celebrar a vida, narram histórias uns aos outros. A peste funciona como uma moldura e, através desse enquadramento, Boccaccio monta uma estrutura equilibrada, com um leque de situações e personagens com gostos e condutas significativas, jogando com diversas possibilidades de identificação com o leitor. O autor exprime, em suas narrativas, o espírito da burguesia comercial que assegurava sua ascendência na vida social; seu tema é a vida humana, tal como ela se apresenta, na complexidade do dia a dia, sempre fugindo de códigos e padrões preestabelecidos. A relação mais apurada é o amor, que apresenta aspectos cômicos, agressivos, obscenos e também pode aparecer em eventos ternos, patéticos ou aventureiros. Boccaccio sinaliza uma nova maneira de pensar e retratar a vida, bem como, a criatura humana.

É muito presente na sua prosa a figura feminina, cujo amor é carnal, real e concreto, recorrendo a jogos de sedução e diferentes maneiras de agir diante de situações. Nesta narrativa, o humano é caracterizado pela razão, pela astúcia, pelas escolhas (certas ou erradas), e a vida é um comércio de ações de troca. Ademais, o Decameron debocha e desafia a Igreja e os costumes da época. Uma obra para continuar a ser lida, visto que não deixa de ser contemporânea, e que encanta, ainda hoje, por essa atualidade.

Deixo aqui uma sugestão: Il Decameron (1971), de Pier Paolo Pasolini, baseado na obra de Boccaccio. O filme ganhou o prêmio Grande Prix do Júri no Festival de Berlim do mesmo ano. É possível assistir o trailer na plataforma YouTube.




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como citar: DORNELES, Nirvana. Boccaccio: o Decameron. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.1, jan. 2020. Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209959