La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Vittorio Sereni: Diario d'Algeria, por Caroline Weiss





Vittorio Sereni foi um grande poeta e escritor italiano da geração pós-motale, nascido em 27 de julho de 1913, em Luino, na região da Lombardia, ao norte da Itália. Tanto a proximidade fronteiriça quanto a convivência vizinha ao Lago Maggiore, onde o poeta passou grande parte de sua infância, deixaram grandes traços de sensibilidade nas obras do autor. Frontiera, primeiramente publicado no ano de 1941, trata de limites, e por limites é possível entender tanto a questão geográfica quanto a fronteira entre juventude e maturidade; entre a vida e a morte. A existencialidade que permeia Frontiera é recorrente também nas obras seguintes de Sereni. Entretanto, o tema passa a se ligar a outras questões da vida do autor. Entre os anos de 1941 e 1945, Vittorio Sereni escreve Diario d'Algeria, onde relata suas experiências como prisioneiro em um campo de concentração na Argélia. A existencialidade em Diario d'Algeria é fruto das marcas deixadas pela guerra assim como de uma Itália distante, impossibilitando a participação do autor no conflito durante esse período. No diário, a palavra guerra é praticamente ausente, o que dá espaço para a criação de poemas portadores de imagens alegóricas da guerra. Seleciono em especial o poema abaixo, que faz parte da seção também intitulada Diario d'Algeria:

Ahimè come ritorna

sulla frondosa a mezzo luglio
collina d'Algeria
di te nell'alta erba riversa
non ingenua la voce
e nemmeno perversa
che l'afa lamenta
e la bocca feroce

ma rauca un poco e tenera soltanto...


Saint-Cloud, 1944


Um dos elementos que mais chama a atenção é a falta de pontuação, evidenciando na forma, o vazio que também é presente nos versos. As descrições usadas para a boca e a voz (fragmentos de um corpo não explicitado no poema) são abstratas, caracterizando a falta de clareza que uma memória pode ter. A partir dessas observações, é possível estabelecer uma relação entre o vazio dos versos e o vazio de oportunidades, momentos, experiências perdidas por aqueles que vivenciaram a guerra. E, Vittorio Sereni, marcado por esse acontecimento, continuou a carregar nas suas produções seguintes o efeito causado pela impossibilidade de estar em seu país durante a guerra, junto ao seu povo.
Sereni usa dos mesmos signos convencionados da linguagem prática que compõem um diário, colocando inclusive um local e uma data ao fim do poema, porém ao fazer o rearranjo desses signos, desmembrando a sintaxe ao longo de versos que remetem ao vazio, ele constrói uma imagem alegórica da guerra sem precisar usar palavras que comumente remetem ao conflito. Para tratar de um assunto tão delicado, a poesia, libertadora do obrigar a dizer, possibilita o jogo de palavras com uma pluralidade de significados impensáveis e intraduzíveis, e é esse jogo que vemos em Diario d'Algeria.
É possível encontrar em português alguns poemas de Vittorio Sereni, porém suas obras ainda não foram integralmente traduzidas no Brasil.