La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

A Dor da Perda e a Leveza da Linguagem em Giorgio Caproni, por Helena Bressan Carminati

Giorgio Caproni

O poeta italiano Giorgio Caproni (1912-1990), em alguns de seus poemas, faz referência a lugares afetivos e cria personagens. A criação de personagens não é algo comum para a poética italiana do último século, pois além de sugerir um novo rumo à poesia, ou seja, uma poesia narrativa e com sequências, ainda cria diálogos. Passamos então de poemas centrados no eu lírico, a diálogos e pensamentos.


Nesse sentido, podemos lembrar da sua obra Il seme del piangere (1959), na qual o autor dá vida à personagem Annina, na primeira parte do livro, intitulada "i versi livornesi". Dedicando-os à Anna Picchi, sua mãe já falecida, nesses versos Caproni recria fases da juventude de sua mãe que, pela lei natural da vida, não presenciou. Fazendo uso de uma linguagem cotidiana, e palavras simples que são frequentes em seus poemas, o autor dá ritmo e sonoridade aos versos, possibilitando ao leitor criar cenas e imagens a partir da leitura, o que pode podemos observar no seguinte trecho do poema L'Uscita Mattutina (A saída matinal):

"L'ora era di mattina
presto, ancora albina
Ma come s'illuminava
la strada dove lei passava!"
(CAPRONI, 1959, p. 202)

"A hora era de manhã
cedo, ainda albina
mas como se iluminava
a estrada onde ela passava"
(tradução livre)

Com rimas simples e sons leves, Caproni consegue dar conta da simplicidade e elegância de Annina, utilizando como recurso a leveza da linguagem através de rimas abertas e da escolha de palavras que remetem à luz, à leveza. Outro aspecto interessante é o fato de Caproni, apesar de escrever em versos, tender a uma poesia narrativa, ou uma espécie de prosa, tornando seus versos mais acessíveis para o leitor, pois faz uso de sequências narrativas. Além disso, o poeta utiliza um modo peculiar para tratar o tema da morte e do vazio em relação à perda da mãe, visto que a perda e o luto não são abordados de forma previsíveis. O autor não trata da nostalgia, do sentimento de perda em relação à morte, mas preenche este vazio recriando cenas e flashes da vida de Annina; recriando sua infância, suas fases e sua vida cotidiana, mostrando ao leitor nuances da personagem.

Através de uma linguagem que tende à prosa e ao emprego de diminutivos/formas carinhosas e de uma sintaxe simples e compreensível, Caproni fala sobre a dureza e o vazio da perda, mas que nos versos parecem ser contrabalançados pelo ritmo e pela leveza da linguagem trabalhados pelo poeta. Alguns poemas como L'Uscita Mttutina, Preghiera, Perch'io, Né ombra né sospetto, Ultima preghiera e Il seme del piangere podem ser citados como exemplos.

Este texto, fruto da pesquisa do projeto "Giorgio Caproni: a palavra esgarçada, potencialidades da poesia italiana" foi premiado e selecionado para ser apresentado em formato de pôster na Jornada Nacional de Iniciação Científica (JNIC), em Maceió (Alagoas), em julho de 2018.

Para mais informações, acesse o link que reporta ao vídeo feito para o 26° Seminário de Iniciação Científica da UFSC, que aborda a obra Il seme del piangere: https://www.youtube.com/watch?v=PaTD96mDCQY


como citar: CARMINATI, Helena Bressan. A Dor da Perda e a Leveza da Linguagem em Giorgio Caproni. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.1, jan. 2020. Disponível em

https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209963