La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Os Poemas-Narrativos de Cesare Pavese

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Nascido no início do século XX e com publicações concentradas nos seus primeiros 50 anos, Cesare Pavese (1908-1950) pode ser visto como um clássico do Novecento devido a seu estilo, língua e uma particular voz narrativa e poética, sem esquecer de seu trabalho editorial e de tradução. Crítico literário, sobretudo da literatura norte-americana, foi por muitos anos editor da Einaudi.
Sua primeira publicação foi a coletânea poética Lavorare stanca ("Trabalhar Cansa"), de 1936. Um livro que permaneceu marginal dentro da própria produção de Pavese, como do cenário da poesia italiana do século XX, uma vez que seu estilo se distanciava das poéticas modernistas e do hermetismo italiano - consolidado nos anos 30. A poesia pavesiana, também dita "poesia-racconto", como o nome sugere, é uma poesia com traços narrativos, de uma linguagem predominantemente coloquial e sobre temas e pessoas do dia-a-dia. Poemas, portanto, onde encontramos trabalhadores rurais, prostitutas, bêbados, adolescentes, donas-de-casa, entre outros.

É curioso ressaltar que, embora sua primeira publicação tenha sido em 1936, enquanto estava preso - Pavese ficou preso durante 3 anos por intermediar a correspondência de sua amante e um amigo clandestino - houve uma segunda edição em 1943, na qual o poeta fez algumas modificações e acréscimos. Foi essa edição posterior que serviu de base para a edição bilíngue de Trabalhar Cansa (Ed. Cosac Naify e 7 Letras, com tradução de Maurício Santana Dias, 2009).



Apesar da poética de Pavese ainda ser relativamente recente aqui no Brasil - se comparado a outros poetas do período, como Eugenio Montale e Giuseppe Ungaretti - sua produção narrativa tornou-se objeto de tradução já em meados dos anos 80. A primeira tradução foi o último romance de Pavese: A lua e as fogueiras (Guanabara Dois, trad. Sergio Lamarão, 1986), que ganhou uma segunda tradução em 2002 (Ed. Berlendis & Vertecchia, trad. Liliana Laganá). Lançado originalmente na Itália em 1950, o romance traz questões como a impossibilidade amorosa e a solidão humana, contando também com elementos biográficos de Pavese.


Elementos que são destaque no diário O Ofício de Viver (Bertrand Brasil, trad. Homero Freitas de Andrade, 1988), obra iniciada quando preso no sul da Itália (1935) e finalizada pouco antes de sua morte (1950). Publicada postumamente com a organização de Massimo Mila, Italo Calvino e Natalia Ginzburg, pode ser considerada uma das obras mais importantes de Pavese. Dentre algumas características dessa obra, podemos destacar a escrita reduzida ao essencial, sobretudo na forma de fragmentos, e alguns temas que percorreram toda a obra do escritor: desde a busca desesperada do amor até a ideia de suicídio para pôr fim a uma vida sem sentido. Uma vida que termina em 1950, com o suicídio de Cesare Pavese em Turim.




Dentre as outras obras do autor publicadas no Brasil, temos:

1987: O Belo Verão (La Bella Estate), ed. Brasiliense;
1988: Mulheres Sós (Tra Donne Sole), ed. Brasiliense, tradução de Julia Marchetti Polinesio;
2001: Diálogos com Leucó (Dialoghi con Leucò), ed. Cosac Naify, tradução de Nilson Moulin.


Para concluir, apresento o poema "Trabalhar Cansa", presente na coletânea homônima, e no qual pode-se observar o estilo poético de Pavese.


Trabalhar cansa

Travessar uma rua fugindo de casa
só um menino o faria, mas este homem que passa
todo o dia nas ruas não é mais menino
e não foge de casa.

                                         Em pleno verão,
até as praças se tornam vazias de tarde, deitadas
sob o sol que começa a cair, e este homem que chega
por um parque de plantas inúteis detém-se.
Vale a pena ser só para estar cada vez mais sozinho?
Simplesmente vagar, pois as praças e ruas
estão ermas. Forçoso é abordar uma mulher
e falar-lhe e fazê-la viver com você.
Do contrário, se fala sozinho. É por isso que às vezes
algum bêbado à noite dispara discursos
e repassa os projetos de toda sua vida.

Certamente não é esperando na praça deserta
que se encontram pessoas, mas quem anda nas ruas
se detém vez ou outra. Estivessem a dois
mesmo andando na rua, sua casa estaria
onde está a mulher. Valeria a pena.
Mas de noite essa praça retorna ao vazio
e este homem que passa não vê as fachadas
entre luzes inúteis nem ergue seus olhos:
sente só o ladrilho que outros homens fizeram
com mãos secas e duras, assim como as suas.
Não é justo deixar-se na praça deserta.
Com certeza há de andar pela rua a mulher
que, chamada, viria ajudar com a casa.

(1934)


Para informações mais específicas a respeito das publicações mencionadas nessa postagem, acesse o  Dicionário de Literatura Italiana Traduzida no Brasil