La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Umberto Fiori: um primeiro olhar, por Agnes Ghisi

"O seu leitor nunca precisa consultar um vocabulário, é uma poesia "simples" - ao menos em aparência, em superfície"*

Ex- participante da clássica banda de rock italiano Stormy Six, Umberto Fiori conta com cerca de dez livros publicados na Itália desde seu lançamento literário, em 1986, com a obra Case (San Marco dei Giustiani). A partir de então, o poeta tem sido publicado principalmente pela Marcos y Marcos e lançou as seguintes coletâneas de poesia: Esempi (1992, 2004), Chiarimenti (1995), Parlare al Muro (1996), Tutti (1998), La Bella Vista (2002), Voi (Mondadori, 2009). Além das obras poéticas, o milanês publicou ainda um breve romance, La Vera Storia de Boy Bantàm (Feltrinelli, 2007), e uma coleção de ensaios sobre poesia, La Poesia È un Fischio (Marcos y Marcos, 2007). Em 2014, a Mondadori publicou Poesie, título que reúne em 272 páginas toda a produção poética de Fiori até então.



Em uma entrevista publicada no livro Vozes, o poeta comenta a respeito de sua relação com a música:

"a língua que procurei por muito tempo (ou talvez sonhei) é a que todos falam, uma língua distante dos refinamentos literários (...) aquela que acabei escolhendo foi uma língua reduzida ao osso, muito próxima da fala. Isto não significa que se reduza à prosa, à linguagem de comunicação ordinária. Certo, eu evito muitos "ornamentos" tradicionais da língua poética, evito em geral o proliferar das metáforas, o léxico refinado, a "musicalidade" fechada em si mesma, mas, de qualquer modo, escrevo em versos, uso as rimas (ainda que frequentemente as dissimule), busco um ritmo do discurso"

As autoras desse livro de entrevistas, Patricia Peterle e Elena Santi, comentam que a linguagem de Fiori:

 "[é] delineada por certa secura, caracterizada por ser afiada e sem adornos (...) um tom médio, um equilíbrio comunicante e comunicável, que pensa no leitor comum (...) versos sem adornos, em alguns momentos nus, com fortes tendências prosaicas"

Na XII Semana Acadêmica de Letras da UFSC, apresento uma comunicação dedicada à poesia de Umberto Fiori. O trabalho coloca em diálogo a produção de Fiori e a de Giorgio Caproni através de uma leitura transversal de dois poemas escolhidos. Também está em fase final de elaboração um artigo dedicado ao poema Giardini, da coletânea Esempi, no qual proponho uma tradução comentada. Essas produções são frutos da minha pesquisa realizada como bolsista PIBIC/CNPq, junto ao Núcleo de Estudos Contemporâneos de Literatura Italiana (NECLIT), orientada pela Profa. Dra. Patricia Peterle. Essas iniciativas estabelecem um primeiro contato com o autor, que ainda não foi traduzido por aqui.

Como prévia da comunicação, deixo aqui uma parte do que produzi textualmente:

"O poema de Fiori aqui abordado faz parte de seu livro de exórdio, Esempi (Marcos y Marcos, 1992) e, como em toda sua obra até agora, o autor apresenta uma "língua de todos"*, fazendo uso de palavras comuns, as quais "o leitor não precisa buscar no dicionário" (aqui, podemos pensar já em uma aproximação com a linguagem caproniana). Ainda, segundo Afribo, a poesia de Fiori quase sempre apresenta uma história, aspecto também notável no poema que escolhemos: em poucos versos o poeta nos faz refletir sobre as mudanças que se dão cotidianamente ao nosso redor, em todas as cidades do mundo, nos aproximando de uma universalidade -- a constante transformação que experienciamos, mas que nem sempre observamos, é poetizada de maneira anedótica por Fiori. O poeta metamorfoseia o banal em algo "inesperado que escancara o mundo da vida, que escava o não-habitual sepultado no habitual, aquilo que nos faz ver o ordinário - isto é, as coisas ao nosso redor, aqueles próximos a nós, todos os dias - sob uma nova luz, mais verdadeira". O espaço físico evocado por Fiori é, como a cidadezinha de Caproni, um lugar que "não tem uma subjetivação e uma personalização", são espaços que podem ter partido de um lugar real, mas que, por meio da ficcionalização na poesia, se tornam subjetivos e tangíveis ao leitor. Mediante esses versos, podemos identificar uma cidadezinha ou clareira na nossa memória, particular a nós mesmos, mas que não deixa de ser lugar comum, acessível a todos: "pode ser Milão, mas pode ser qualquer outra cidade" e, por isso mesmo, esse espaço possui validade universal.

como citar: GHISI, Agnes. Umberto Fiori: um primeiro olhar. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.1, jan. 2020.Disponível em
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209960