La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Amizades Literárias: Giorgio Caproni e a poesia italiana contemporânea, por Agnes Ghisi

Ao falarmos da poesia moderna italiana, é inevitável tangenciar a produção de Giuseppe Ungaretti (1888 - 1970) e Eugenio Montale (1896 - 1961), autores de estilos distintos e, talvez por isso mesmo, tão importantes para a formação das gerações da cena literária italiana que se seguiram. Entre os grandes nomes da poesia que leram e releram a força estilística ungarettiana e montaliana, está o de Giorgio Caproni, autor cuja poética é foco de minha pesquisa*.
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Nas muitas leituras feitas, esbarrei em diversas citações e comentários do autor livornês a respeito da influência que esses poetas tiveram em seu trabalho. Aqui, apresentarei algumas delas, extraídas principalmente do livro de entrevistas Il mondo ha bisogno dei poeti: interviste e autocommenti 1948 - 1990 (org. Melissa Rota, intro. Anna Dolfi, Firenze University Press, 2014).
A respeito de Ungaretti, Caproni comenta que seu primeiro contato se deu com a obra Allegria di Naufragi (Vallecchi, 1919), que trata da experiência da guerra nas trincheiras, o que é interessante visto que, como muitos dos leitores de Caproni sabem, a guerra é um tema que marca grande parte da sua poética (considerando que as primeiras publicações do nosso poeta foram realizadas antes dessa experiência, elas não abordam esse nem outros temas mais "adultos", mesmo porque recolhem "o epitáfio de sua juventude" (CAPRONI, BETOCCHI, 2007, p. 65)).
 


Related image Em relação a essa obra ungarettiana, Caproni diz que o que despertou seu interesse, a sua curiosidade, foi a "rugosidade do papel e, sobretudo, pelo modo estranho - quase uma palavra em cima da outra - como era composto"** (op. cit., p. 225). Outra produção de Ungaretti que marcou bastante o jovem Caproni foi Sentimento del Tempo (Vallecchi, 1933), um dos grandes marcos do hermetismo italiano, corrente literária caracterizada por versos enxutos e ricos em analogia. A influência de Ungaretti aparece mais no último Caproni, pois o que o marcou foi "primeiramente, o silabário da poesia, depois (...) o que significa ser um homem inteiro, um coração e uma mente inteiros e abertos a irradiar calor e confiança ao redor, e coragem." (trecho de A Porta Morgana: ensaios sobre poesia e tradução, org., intro. e tradução de Patricia Peterle, com prefácio de Enrico Testa, Rafael Copetti Editor, 2018, p. 231)



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Montale (Nobel de Literatura, 1975) também é um dos grandes nomes do hermetismo italiano, ao menos em um primeiro momento desse movimento. Se com seu silabário Ungaretti marcou o jovem Caproni que estava para prestar serviço militar, Montale é inspiração para a musicalidade do Caproni de formação musical (violino e solfejo). Nosso poeta começou estudando música no conservatório e, depois de algumas frustrações, descobriu na poesia, na palavra, a sua paixão. Entretanto, isso não fez com que se esquecesse das características musicais da língua italiana. A esse respeito, Caproni comenta "mas [ter entendido ainda menos aqueles versos] não importa. Fiquei tão transtornado pela onda daquela música, que desde então nunca mais me separei [de Ossi di Seppia]" (op. cit., p. 233).


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Outra característica comum aos dois, que é até mais marcante, é o fato de serem poetas lígures, ou seja, provêm da Liguria, região ao norte da Itália. Caproni se considera um "genovês de Livorno"; e a respeito Montale, comenta "não quero cair, com isso, na frágil armadilha de definir (e, portanto, limitar) Montale como 'poeta lígure', apesar de, sem sombra de dúvida, ele estar no ápice daquela corrente (...) [ele] é poeta universal, mesmo permanecendo a verdade de que ninguém nunca conseguiu, com maior energia, tirar da própria terra (e do próprio mar) as primeiras metáforas de seu dizer" (op. cit., p. 234). Mar, este, também tão caro a nosso poeta, além de fonte de algumas de suas metáforas - o sal do mar, o sal da vida, "o sal de teus instantes felizes" (A coisa perdida: Agamben comenta Caproni, org. e trad. Aurora Fornoni Bernardini, EdUFSC, 2011, p. 97).

Esta é a primeira de uma série de postagens intitulada "Amizades Literárias". Inicialmente, falaremos das amizades de Caproni com outros grandes nomes da literatura, com isso, poderemos observar pontos convergentes e divergentes na poética do Novecento.

Para mais informações, acesse o Dicionário de Literatura Italiana Traduzida no Brasil


como citar: GHISI, Agnes. Amizades Literárias: Giorgio Caproni e a poesia italiana contemporânea. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.2, fev. 2020.Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209945