La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Amizades Literárias: Giorgio Caproni e Pier Paolo Pasolini, por Helena Bressan Carminati







Dando continuidade à série de postagens intitulada "Amizades Literárias", hoje falaremos sobre a relação entre dois importantes autores da literatura italiana do século XX: Giorgio Caproni e Pier Paolo Pasolini. Uma amizade construída aos poucos e que foi se desabrochando com o passar dos anos e o convívio quase que diário no bairro em que moraram em Roma, chamado Monteverde (local que também morou Bertolucci e Gadda). Ali, vivenciaram momentos de grandes trocas pessoais, intelectuais, entre si e também com outros autores.

Entretanto, apesar de terem se conhecido na capital italiana e compartilhado diversos momentos, o contato e a admiração surgiram muito antes disso... mais precisamente no período em que Caproni lutava como partigiano na Resistenza Italiana. Foi justamente nesse momento, caracterizado pela guerra, por mortes e pela perda de referências, que o escritor encontra-se com a poesia de Pasolini, sobre a qual Caproni irá falar em uma entrevista no livro Il Mondo Ha Bisogno dei Poeti: interviste e autocommenti 1948 – 1990, que podemos ver a seguir: 

"'Fontana d'acqua del mio paese. / Non c'è acqua più fresca che al mio paese. / Fontane di rustico amore'" (P. P. Pasolini, Casarsa, in Poesie a Casarsa)
Sono, questi versi, i primi ch'io lessi di Pier Paolo Pasolini. Li trovar a pagina uno libro di un libricino intitolato Poesie a Casarsa, e fu in friulano che le lessi, anzi, in quell'idioma friulano dolcemente intriso di veneto che si parla sulla riva destra del Tagliamento. 
L'anno era il 1942: l'anno più chiuso a ogni nostra speranza; e io non so ridire l'emozione, la commozione - mentre il mio zaino era pieno di bombe e di buio - che mi colse al suono di quelle limpide sillabe. Voltai - ma non subito, per timore d'un disinganno - la pagina. Mi batteva il cuore: più d'una fucilata m'avrebbe ucciso, quella notte all'addiaccio sotto una luna gelida che pur bastava a illuminarmi la furtiva lettera, una delusione. Ma non ci fu nessuna delusione. La seconda pagina confermava, avvalorava la prima. E così la terza, così la quarta, così le rimanenti. Giacchè era la voce d'un poeta quella che, per un miracolo, mi aveva raggiunto in così nera ciscostanza. Era la voce - viva- della vita. 
[...] Pasolini è rimasto, come mi apparve allora, un poeta esemplare per il nitore e la fermezza della propria parola". (CAPRONI, 2014, p. 37) 

Foi então em um momento de ausência de poesia, em meio a guerra, às bombas, que Caproni encontra nos versos de Pasolini a esperança, a "vida", como ele mesmo diz. E assim, após conhecerem-se pessoalmente, os escritores constroem uma relação bastante bonita de amizade. Além disso, foi graças ao escritor, que Caproni teve sua produção poética reconhecida na Itália, pois por muitos anos foi considerado um poeta menor. Segundo Enrico Testa, "a primeira verdadeira e importante resenha que Caproni recebe é, em 1952, justamente o ensaio de Pasolini intitulado Caproni, lançado no número 36 da revista Paragone e inserido, mais tarde, como parte do livro fundamental pasoliniano, Passione e ideologia, de 1960" (TESTA, 2016, p. 81-82). Assim, além de um grande apreço que o escritor livornês nutria por Pasolini, foi o próprio autor que lhe conferiu uma certa notoriedade dentro dos estudos literários italianos na época.

Outro aspecto interessante é o fato de Caproni e Pasolini terem escrito poemas um para o outro, que constam no livro Giorgio Caproni e roma de Marco Onofrio (p. 31), que podemos observar abaixo:

Quanto celeste, quanto / bianco, quanto / verdeazzurro vedo / nel tuo nome uno e trino (Caproni para Pasolini)

Anima armoniosa, perché muta e, perché scura, tersa: / se c’è qualcuno come te, la vita non è persa (Pasolini para Caproni)



Ademais, ainda no livro de entrevistas de Caproni temos um trecho do autor elogiando a obra Poesie a Casarsa de Pasolini: "Historicamente, é o livro mais importante do pós-guerra: a dor "metafísica" era substituída por uma nova dor "política". Nenhum poeta do século XX entrou de forma tão intensa na questão social. O livro, publicado em 1957, eu havia visto nascer, frequentando a casa de Pier Paolo, desde 1954" (CAPRONI, 2014, p. 166).
Assim, é possível perceber uma relação muito bonita de amizade entre os escritores, que antes mesmo de ser, já "era" através da admiração poética, pois além de amigos, eram leitores um do outro.


* Para saber um pouco mais desta amizade, fica a sugestão de leitura do capítulo "Cartografias literárias: Caproni e Pasolini", na obra A palavra esgarçada: poesia e pensamento em Giorgio Caproni, de Patricia Peterle. A seguir, um trecho interessante retirado do capítulo: 

"O que interessa a Caproni, como leitor e como poeta, é precisamente, a capacidade de Pasolini de se reinventar na escritura (ser "uno e trino"), de propor coisas novas e,  portanto, de aumentar e reforçar seu patrimônio. Nesse outro balanço, portanto, Caproni não pode não deixar de retomar o ponto sobre o qual já havia falado anos antes, o da aproximação com a prosa e um novo tipo de experimentação com a língua". (PETERLE, 2018, p. 139)

Referências: 

CAPRONI, Giorgio. Il Mondo Ha Bisogno dei Poeti: interviste e autocommenti 1948 – 1990Organização de Melissa Rota e introdução de Anna Dolfi. Florença: Firenze University Press, 2014. ENRICO, Testa. Cinzas do século XX: três lições sobre a poesia italiana. Organização Patricia Peterle, Silvana de Gasperi. – 1. ed. – Rio de Janeiro: 7 Letras, 2016.
ONOFRIO, Marco. Giorgio Caproni e Roma. Roma: Edilazio, 2015.
PETERLE, Patricia. A palavra esgarçada: poesia e pensamento em Giorgio Caproni. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2018. 
PETERLR, Patricia. no limite da palavra. Rio de Janeiro: 7Letras, 2015.


como citar:  CARMINATI, Helena Bressan. Amizades Literárias: Giorgio Caproni e Pier Paolo Pasolini. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.2, fev. 2020.Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209949