La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Vittorio Sereni: os versos que não bastam, por Caroline Weiss






Gli strumenti umani (1965), terceiro livro de Vittorio Sereni, apresenta poemas escritos em um longo período de tempo, entre 1945 e 1965, que abordam temas ligados ao cotidiano, com versos que, diferentemente da lírica tradicional, são carregados de oralidade, e retratam ainda uma poesia que reflete sobre a sua própria função na sociedade. Em Cinzas do século XX, na primeira lição, Enrico Testa aborda a mudança na poesia dos anos 60:
A exigência de uma nova relação com o objeto, com a realidade, com uma língua em contínuo crescimento, difusão e modificação é própria de vários poetas desses anos. E, por fim, aparece um tema que também caracteriza sempre suas declarações, seja enquanto resgatam outros poetas, seja quando fazem o que se pode chamar declarações de poética, ou seja quando ilustram a própria posição e ideia de poesia. (2016, p. 130)
Assim como aponta Testa, podemos observar, nos escritos de Vittorio Sereni dos anos 60, uma manipulação mais madura da língua, com a presença de diálogos, poemas mais longos e registros diversos, tanto cotidianos quanto literários. Sereni, assim como vários outros poetas, aborda em seus escritos a questão da língua e da poesia.
Na seção “Il centro abitato”, no poema “I versi”, nos deparamos justamente com a questão da impossibilidade da linguagem. Chamamos atenção principalmente para a última parte do poema: "Si fanno versi per scrollare un peso / e passare al seguente. Ma c'è sempre / qualche peso di troppo, non c'è mai / alcun verso che basti / se domani tu stesso te ne scordi." Como é colocado, tem sempre algo além que a linguagem não consegue alcançar, nem mesmo os versos bastam para apreender esse "peso" que desliza por entre os espaços em branco, e que se perde. Vemos uma definição de poesia como aquilo que toca o limite da linguagem, fazendo o uso de palavras que sugerem mas não sabem dizer, em que existe exatamente uma impossibilidade de se dizer. Segundo Prigent (2017, p. 15-16):
[...] a sensação de que nem o bloco átono da prosa (o continuum do pensamento ou da narrativa) nem o metrônomo melódico modelado (a "prosódia") dão conta da sensação que temos da descontinuidade das coisas e da in-significância do presente; de que é, pois, preciso encontrar uma forma (um esquema rítmico sem regra a priori, uma ocorrência artificialmente recortada do "sentido") para que o sismograma dessa sensação provoque um efeito de verdade.
A poesia, essa possibilidade de jogo da/na linguagem, se apresenta como um acesso, uma fissura, um flash provocador desse "efeito de verdade". Os versos de Sereni não apenas falam daquilo que escapa à linguagem, mas também mostram essas fissuras, penetradas na escrita, logo no início do poema: "Se ne scrivono ancora." O primeiro verso ressalta um referente que não foi dado, com a partícula "ne", usada em italiano para retomar um referente já explicitado. Da mesma forma que esse referente escapa aos versos, os próprios significados dentro da poesia também escapam, e o leitor não tem acesso ao que quer que represente esse "ne". A poesia é possível apenas enquanto limite, enquanto um meio que coloca a relação com o real (aquilo que escapa ao simbólico) em jogo.

I VERSI

Se ne scrivono ancora.
Si pensa a essi mentendo
ai trepidi occhi che ti fanno gli auguri
l'ultima sera dell'anno.
Se ne scrivono solo in negativo
dentro un nero di anni
come pagando un fastidioso debito
che era vecchio di anni.
No, non è più felice l'esercizio.
Ridono alcuni: tu scrivevi per l'Arte.
Nemmeno io volevo questo che volevo ben altro.
Si fanno versi per scrollare un peso
e passare al seguente. Ma c'è sempre
qualche peso di troppo, non c'è mai
alcun verso che basti
se domani tu stesso te ne scordi.
(Gli strumenti umani, p. 392-393)

Referências

LACAN, Jacques. O simbólico, o imaginário e o real. Disponível em:< http://psicoanalisis.org/lacan/rsi-53.htm >. Acesso em: 21 de set. 2018.
PETERLE, Patricia ; GASPARI, Silvana (Org.) . Cinzas do século XX: três lições sobre a poesia italiana. 1. ed. Rio de Janeiro: 7Letras, 2016. v. 1. 130p .
PRIGENT, Christian. "Para que poetas ainda?". In: Para que poetas ainda?. Florianopolis, Cultura e Barbárie, 2017


como citar:  WEISS, Caroline. Vittorio Sereni: Diario d'Algeria. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.2, fev. 2020.Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209948