La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

O Jardim dos Finzi-Contini, por Izabel Dal Pont

     




Imagem do filme de Vittorio De Sica


Em O Jardim dos Finzi-Contini, de Giorgio Bassani, o protagonista rememora o passado e a partir dele recompõe romanescamente um quadro minucioso e opaco no centro do qual coloca a enigmática e fascinante figura de Micòl Finzi-Contini. Ambientado na Ferrara dos anos 1930, o romance evoca a adolescência e a juventude do eu-narrador e suas relações com a família Finzi-Contini. História e morte compartilham o espaço das páginas que desde o prólogo escancaram a sorte trágica da poderosa e rica família. 
     A narrativa é pautada por um contínuo recordar. “Recordar” é justamente a última palavra do romance. Recordar é igualmente a via de acesso a um passado ainda alcançável, que todavia, se distancia, que lentamente fenece. A propósito do recordar, é uma visita do eu-narrador à uma necrópole etrusca nas imediações de Roma, no final dos anos cinquenta, que reacende em sua memória a lembrança da monumental tumba da família Finzi-Contini localizada no cemitério hebraico de Ferrara. Essa analogia o transporta ao passado em busca de reminiscências de sua juventude. Reminiscências que no entanto se materializam intermediados por filtros tais como, paredes, corredores, brumas, luzes artificiais, vidraças embaçadas, nevoeiros e muros.
     Muros que no cerne da narrativa afloram determinantes. Muros que circundam e envolvem Ferrara. Muros que enceram e guardam os colossais jardins e a suntuosa mansão Finzi-Contini. A primeira vista impenetráveis, muros dentro de muros. Fortificações que não cessam de aludir a um só tempo: afastamento e aproximação, liberdade e prisão. Muros que comportam fendas, espaços vazios, subterrâneos, criptas. Inesgotáveis metáforas, de prisão, de abrigo, de defesa, de refúgio, de morte. Igualmente espaços simbólicos de exclusão, de imobilidade, de incomunicabilidade, de proteção. Intermediam a visão, alimentam a imaginação, demandam invasão. Instigam exploração. Muro que é barreira e contemporaneamente travessia. Farol, de cujo topo é possível ampliar a visão. Muro que impede, muro que permite, muro que separa, muro que está entre. 





como citar: DAL PONT, Izabel. O Jardim dos Finzi-Contini. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.4, abril. 2020. Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209899