La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Elena Ferrante, autor, obra ou leitor?, por Rosi Isabel Bergamaschi Chraim







As línguas, para mim, têm um veneno secreto que, de vez em quando, aflora e para o qual não há antídoto.
Elena Ferrante.

"Desde a obra e pela obra"
É dessa forma que Elena Ferrante, pseudônimo utilizado pela autora, deseja ser conhecida e reconhecida, e o foi. Seus primeiros escritos, publicados em 1992, ganharam o mundo, ou boa parte dele. Desde o italiano, língua em que a obra é originalmente escrita, seus livros foram traduzidos para mais de quarenta países, entre eles, o Brasil. De todos os seus livros, o que teve mais eco foi a "série napolitana", tetralogia editada em quatro volumes, que vendeu mais de quatro milhões de exemplares. Além das traduções, sua obra ganhou, também, formato de série para televisão, com produção da emissora pública italiana Rai e da rede norte-americana HBO.
Entre alguns críticos o fato de a autora ter usado pseudônimo, causando um certo mistério sobre quem escreve e fertilizando o imaginário do leitor, também auxiliou para o que foi chamado "febre Ferrante", tornando a própria autora, uma criação ficcional.
Mas, acreditando que o que importa é o texto, a autora mantém os leitores fiéis, causando, inclusive, movimentos de grupos, em especial das áreas de humanas, para pensar e discutir sobre temas de suas obras.
Com uma escrita fluída e aparentemente leve a autora relata questões do cotidiano tornando o texto familiar para o leitor e permitindo que ele se reconheça e se inclua. São histórias que trazem em seu bojo, em seu enredo, "dramas" e "tramas" da inquietude humana, em especial do “mundo feminino”. Há quem diga, também, que Elena Ferrante seria uma feminista, por tratar, na maioria das vezes, de questões relacionadas às mulheres.
No entanto, mesmo sendo situações ou personagens femininas, as palavras, que escolhe para discorrer sobre certos sentimentos e a forma como escreve, apontam para aquilo que é da ordem do sujeito – de qualquer sujeito.

Eu estava como alguém que conquista a própria existência e sente um mundo de coisas ao mesmo tempo, entre elas uma ausência insuportável",

Encontra-se, em certos momentos, uma escrita quase que memorialística, quase biográfica, dando a impressão de que a autora toma sua própria memória ou pormenores de sua própria vida, para relatar acontecimentos, lugares e situações... Talvez por causa disso, tantos investigaram e confabularam sobre o verdadeiro nome da autora. Mas, para o leitor que se atém e que vai além da trama, sabe que isso não importa (ou que não importa tanto assim), pois sua leitura o inclui aproximando-se, inclusive, da escrita – permitindo que se sinta um “escrileitor”.


como citar: CHRAIM, Rosi Isabel Bergamaschi. Elena Ferrante, autor, obra ou leitor. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.3, março. 2020.Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209904