La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

A devolvida/A retornada: uma volta também interior por Marlene Rodrigues Brandolt



                                   





                                                                                                         
   
        Em dezembro de 2019, iniciei uma pesquisa pela internet para pensar a circulação de Donatella Di Pientrantonio nos espaços virtuais brasileiros: A devolvida, de 2019, pela Faro Editorial, obra conhecida também pelo título A retornada, de 2019, pela TAG – Experiências Literárias em parceria com a Faro Editorial. Na revisão realizada, entre fevereiro e março de 2020, encontrei, além do ponto de vista de uma autora que traz à luz obstàculos à presença maternal, bem como a ambiguidade da construção identitária, os entrelaçamentos das diversidades que abruptamente atravessam o cotidiano de uma “tarde de agosto de 1975” (DI PIETRANTONIO, 2019, p. 13). A obra é protagonizada por uma menina e duas mães que abandonam, em diferentes situações, a filha; a garota passa o maior tempo da narrativa buscando compreender as separações impostas que anularam uma identidade até então assegurada pela mãe adotiva.
       Por esse viés, a narrativa de Donatella Di Pietrantonio alude ao caos de ocorrências discordantes na divisão familiar, as quais adquirem centralidade numa literatura que parece explicar a história universal de situações de impacto entre mães e filha. Com isso, a ficção de autoria italiana verbaliza o circuito da pluralidade que essa instituição pode trazer; condição com a qual a personagem de 13 anos passa a conviver. Perplexa frente às diferenças culturais que as desmobilizam e, sem poder fugir nem mesmo dela, a garota busca o equilíbrio mental para reagir à adaptação de um espaço de moléstias sociais.

   
Com cenário italiano, a narrativa oferece a possibilidade de reação aos confrontos com a maternidade que é incapaz de salvar o filho das mazelas do dia a dia. Traduz-se, assim, a criação de uma protagonista que, sem nome próprio, é inspiração às ilustrações das capas, conforme imagens na página anterior, desenhadas de duas formas: com rostos divididos e sem rosto; ou, ainda, como aparece na folha de rosto do livro impresso, de 2019, com tradução de Mario Bresighello pela Faro editora, com parte do rosto e do corpo mergulhados em cores densas, remetendo a um emaranhado de emoções em torno de A devolvida. Esta, independependente da vontade dela, passa a vivenciar a situação de A retornada para uma família até então desconhecida. Os títulos correspondem ao sentido de orfandade produzida por mães vivas que definiram o salto brusco da menina para o mundo de adultos com sérias brigas que envolvem questões finaceiras e emocionais. A trdução desse contexto pode ser assim resumido: A devovida/A retornada sai do conforto de um quarto somente dela, para experimentar a realidade onde filhos dormem amontoados. Ali, contudo, encontra a meiguice, a malícia, a paixão e o aroma da dor que os irmãos carregavam com eles!
       Donatella Di Pietrantonio, nascida em Arsita, na Itália, em 1963, trouxe essa imagem distorcida das mães, por uma escolha narrativa, para discutir a diversidade social de fatos que acontecem em qualquer espaço e tempo ou para propiciar ao leitor a autonomia de dar um novo final à personagem, imprimindo-lhe um nome próprio, conforme abriu aos editores a possibilidade dos desdobramentos dos títulos da obra. Diria que ler A devolvida serve como compreensão dos desacertos que levam às inconstâncias da personagem, cuja instabilidade se apresenta no trajeto do homem universal, como é possível sentir nas situações de confinamento às quais também me vejo suscetível diante das mudanças drásticas impostas pela natureza e pelo próprio homem que, indefeso, se rende aos sentimentos de empatia pelo outro. A protagonista igualmente expõe uma percepção de compreensão às progenitoras, que abriram as portas para ela testar a fragilidade e a coragem; momentos de intensa surpresa e de espera que determinam um retornar para dentro dela mesma, reconstruindo “os indícios que tinha deixado passar, sempre os mesmos, mas de tempos em tempos descobria um novo” (DI PIETRANTONIO, 2019, p. 133).
        Uma narrativa não é compreendida somente “pelos hábitos das referências” objetivas; é também notada “em sua essência” literária, conforme o leitor pode acompanhar o enredo que amarra os laços afetuosos a uma história feita de idas e vindas, contando com uma narrativa de lembranças de um casa anterior, para explicar o tempo presente do narrado vivido pela protagonista. com um tempo narrativo que não se apresenta linear. As indicações relativas ao fazer artístico podem remeter às palavras de Gasthon Bachelard. que diz: “isolar a ação mutante da imaginação poética no detalhe das variações das imagens é tarefa dura, posto que monótona”; assim é organizada a construção da trama, com uma poética no que emerge “direto do coração, da alma, do ser do homem tomado na sua atualidade” (BACHELARD, 1978, p. 173).
Figura 3 - Capa e lombada do livro A retornada.
Fonte: Quarto.ato (2019).
     
Com os recursos da vida real e da leveza ficcional, a escritora italiana desenha mergulhos em águas de areia morna, com os quais a obra revela um sentido igualitário, conforme a literatura supõe para todos Fica a sugestão para a leitura do livro de 159 páginas aqui resenhado. Por meio dele, ainda discutir algumas questões, como: a) um conhecimento mais profundo da tradução de Mario Bresighello, por reproduzir, em nota de rodapé, a cultura de uma memória italiana com informações que dizem respeito aos termos e às expressões originais e b) pensar o lugar de Donatella Di Pietrantonio na construção do mercado editorial que se organiza pela/na relação com a diversidade de mundos geográficos e intimistas.



REFERÊNCIAS

BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Abril Cultural, 1978. Disponível em: www.netmundi.org/home/wp-content/.../Bachelard-Coleção-Os-Pensadores-1978.pdf>. Acesso em: 20 maio 2017.

COELHO, Natália. Tag inéditos #3: A Retornada. Quarto.ato cultura sem ponto final, 18 abr. 2019. Disponível em: <http://www.quartoato.com/2019/04/tag-ineditos-3-retornada-identidade.html>. Acesso em: 20 dez. 2019.

DI PIETRANTONIO, Donatella. A retornada. Tradução de Mario Bresighello. São Paulo: Faro Editorial, 2018.



DI PIETRANTONIO, Donatella. A devolvida. Tradução de Mario Bresighello. São Paulo: Faro Editorial, 2019.


como citar: BRANDOLT, Marlene Rodrigues.A devolvida/A retornada: uma volta também interior. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.4, abril. 2020.Disponível em URI: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209891