La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Nas palavras sobrevive ... um rastro do passado - Entrevista com Fabio Pusterla, por P. Peterle e E. Santi




Começa hoje uma série de pequenas entrevistas com poetas italianos, alguns já traduzidos e outros a serem ainda traduzidos, sobre a língua da poesia, o que significa escrever na contemporaneidade, a relação com a tradição, a confluência entre política e estética, poesia e ética. Uma parte desse material foi publicada no volume Vozes: cinco décadas de poesia italiana, organizado por Patricia Peterle e Elena Santi, publicado em 2017, pela Editora Comunità. “O público brasileiro terá o privilégio de reencontrar ou de descobrir uma gama diversificada de poetas e de poemas, mas também um repertório muito rico de referências e concepções de poesia” é o que afirmou Marcos Siscar na orelha de Vozes

As entrevistas aqui serão reproduzidas parcialmente e não estão acompanhadas dos poemas e dos textos de apresentação de cada um dos 33 poetas que fazem parte de Vozes.

Como apontou Andrea Cortellessa, nas matérias que saíram em Alfabeta2: o resultado é “un’antologia iperselezionata e, nondimeno, assai ricca; ma, soprattutto, un giro d’orizzonte assai comprensivo e per molti versi illuminante. Ci sono stati diversi libri simili in passato, e qualcuno anche più di recente, proposti dalla critica e dall’editoria italiane; ma sempre più difficile è pensarli, e in specie realizzarli. Come per altre letterature, infatti, il panorama della nostra poesia si presenta, infatti, quanto mai frammentato; gli autori, inoltre, negli ultimi decenni si sono prestati assai meno che in passato alla riflessione, e soprattutto alla pubblica esposizione della propria poetica. Anche in questa occasione, in effetti, alcuni degli interpellati non hanno voluto rispondere alle questioni incalzanti, e mai banali, delle due intervistatrici. Ciò malgrado il risultato è ragguardevole e, mi sento di dire, senza rivali – per la profondità di ciascuno scavo, in verticale, e l’ampiezza di sguardo, in orizzontale, in un panorama osservato dichiaratamente senza intenzioni «di tendenza» – nelle appunto analoghe pubblicazioni realizzate in patria”.
Fabio Pusterla (Mendrisio, 1957) é o primeiro poeta dessa série. 
Seu primeiro livro traduzido no Brasil é uma antologia organizado pela poeta e professora de Literatura Italiana Prisca Agustoni.

Vozes: O que significa ser poeta hoje? O que é um poeta? O poeta é um cantor nostálgico da palavra já desgastada e obsoleta? É necessariamente um opositor do mundo?

FP: A pergunta pressupõe algo: que entre o “hoje” e “ontem” as coisas tenham sido radicalmente modificadas. Creio que isso seja, sem dúvida, verdade em relação a certos aspectos que poderíamos definir socioculturais: a poesia cer- tamente não pode gozar, hoje, daquele prestígio que talvez (talvez!) tivesse há um tempo. Sua visibilidade diminuiu drasticamente. A atenção crítica é me- nos assídua. As possibilidades editoriais, menores. Mas em outro plano, o da escritura, não me parece que haja diferenças tão grandes; os poetas de hoje continuam a escavar nos jazigos das palavras, procurando as raízes do nosso ser, individual e coletivo, no tempo. Nenhuma nostalgia, logo, se não aque- la antiguíssima de Ulisses, o nostos, que nos segue desde o nosso ingresso no mundo. Quanto à oposição, diria que, quando há, não é de jeito nenhum contra o mundo e a vida, é contra a situação histórica, política e antropológica à qual o mundo e a vida estão obrigados e aprisionados.
Vozes: O elemento essencial para um poeta é a palavra, a matéria-prima a ser buscada, trabalhada e depois “fixada” na página em branco. Quais relações possui com a palavra? E também com a língua? Enfim, como pode ser definida a “sua” língua?

FP: A palavra é tudo, ou quase tudo, em poesia. Cada um de nós vive, experimenta emoções, alegrias, dores e esperanças. Cada um de nós, do seu jeito, pensa, define uma visão do mundo e conhece, de perto e de longe, as poucas coisas que o atravessam profundamente: o amor, a morte, os filhos, o tempo, a dimensão da alteridade. Mas tudo isso, no que concerne à poesia, deposita-se na linguagem, nas palavras. E é esse o território que, se quisermos tentar escrever, é necessário explorar, na sua dimensão mais ampla. Porque as palavras, além de serem potencialmente infinitas e sempre surpreendentes, são usadas pelos seres humanos há muitíssimo tempo. Nas palavras sobrevive, então, um rastro do passado, daquilo que podemos conhecer quase diretamente, e também do outro, mais escuro e distante. Assim, quem escreve poemas procura descer na profundidade das palavras para escutar seu respiro rítmico. Não sei se é possível definir uma língua, não sei se há sentido em fazê-lo. A minha, o italiano, tem pelo menos uma característica: devido à sua particular his- tória, mantém vivíssima a relação entre o nosso hoje e a grande tradição que temos atrás de nós. Dante, para um leitor italiano, não é “simplesmente” um grande autor do passado; é uma presença concreta e tangível dentro da linguagem. Não é pouco.
Vozes: Quais poetas ou escritores (italianos ou estrangeiros) operam na sua escritura? E em que modo se constroem essas relações de leitura, escritura e poéticas? 

FP: Deveria escolher muitos nomes para ser honesto e exaustivo, porque muitos, na Itália e fora dela, são os poetas que li e que me deram algo de importante. No que concerne à poesia italiana, creio ter seguido uma linha ideal que, de Dante, passa através de Tasso, de Parini e Foscolo, até Leopardi, chegando, no século XX, a Saba, a Montale, e mais recentemente, a Vittorio Sereni e Giorgio Orelli. Diante dos autores estrangeiros (que palavra estranha: não sinto nenhuma “estranheza” diante, suponhamos, de Baudelaire), eles seriam muitos. Talvez tenha me nutrido, sobretudo, da grande poesia francesa, de Baudelaire aos contemporâneos (Bonnefoy, Jaccottet), e inglesa. Quando menino, li com avidez Dylan Thomas; depois, encontrei Philippe Jaccottet, que comecei a traduzir há mais de vinte anos, e sobre o qual nunca mais parei de trabalhar.
Vozes: Se pudesse escolher o nome de apenas cinco poetas da segunda metade do século XX até hoje, quais seriam? Como operam na sua poesia?
FP: Vou me limitar, por razões óbvias, aos títulos italianos. Diria, sem dúvida, Gli strumenti umani e Stella variabile de Vittorio Sereni; Il seme del piangere de Giorgio Caproni; Sinopie de Giorgio Orelli; Somiglianze de Milo De Angelis. Em comum eles possuem duas coisas: são livros muito belos, antes de tudo, e tentam inovar a linguagem poética, sem, contudo, escolher a pista da sabotagem vanguardista. Falam da realidade, porém não se contentam com o puro dado material.


como citar: PETERLE, Patricia. SANTI, Elena. Nas palavras sobrevive ... um rastro do passado - Entrevista com Fabio Pusterla. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.4, abril. 2020.Disponível em
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209881