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Literatura Italiana Traduzida ISSN 2675-4363
Covid-19
Helena Bressan Carminati
Primo Levi
em
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Ou será que ele havia tocado a campainha por tantas vezes, e nós, que costumamos ser engolidos pela velocidade do cotidiano, decidimos não atendê-lo?... imagina se é uma daquelas visitas inconvenientes que não percebe a hora de ir embora!? Pois bem, às vezes, a campainha continua sendo tocada. Um dia recebemos um aviso em um cartão passado por debaixo da porta, outro, um vizinho fica encarregado de dar o recado. Mas será que estávamos, de fato, tão ocupados a ponto de o barulho estridente da campainha não nos incomodar e o cartão deixado na porta e o aviso do vizinho não nos despertarem curiosidade? O fato é que agora as coisas inverteram.
Nessa história toda, quem parece ter feito escolhas, um pouco duvidosas, somos nós (humanos?). E por que não retomarmos, então, as palavras e as leituras de uma das grandes vozes italianas do século passado: Primo Levi?!
Em um primeiro momento, o escritor italiano pode parecer distante. Porém, se nos aproximarmos um pouco mais, veremos que muitas das reflexões trazidas por ele são, ainda hoje, pertinentes, e que a distância é apenas um aspecto temporal. Se Levi, após a experiência (des)humana no Lager nutria um "constante desejo de compreender" (FORTINI, 2003, 1681, tradução minha), é porque queria tocar a campainha das próximas gerações. Acreditava na força da palavra para uma reelaboração do passado. Ainda nas palavras de Fortini: "Importam para ele as relações entre os homens, a indecifrabilidade dos seus comportamentos (portanto, do inteiro universo histórico) e o dever de esclarecê-los" (FORTINI, 2003, p. 1681, tradução minha).
Em um primeiro momento, o escritor italiano pode parecer distante. Porém, se nos aproximarmos um pouco mais, veremos que muitas das reflexões trazidas por ele são, ainda hoje, pertinentes, e que a distância é apenas um aspecto temporal. Se Levi, após a experiência (des)humana no Lager nutria um "constante desejo de compreender" (FORTINI, 2003, 1681, tradução minha), é porque queria tocar a campainha das próximas gerações. Acreditava na força da palavra para uma reelaboração do passado. Ainda nas palavras de Fortini: "Importam para ele as relações entre os homens, a indecifrabilidade dos seus comportamentos (portanto, do inteiro universo histórico) e o dever de esclarecê-los" (FORTINI, 2003, p. 1681, tradução minha).
Químico por formação, sobrevivente de Auschwitz e escritor, Levi nutria uma profunda curiosidade por pensar as relações humanas e seus enlaces. Vittorio Sereni, em Ritorno dalla notte, afirma que ele "tinha muito forte o senso da vitalidade e da necessidade de defendê-la a todo momento" (SERENI, 2013, n.p., tradução minha) e analisa algumas das motivações que o teriam levado à literatura, dentre as quais destaca o fato de um dos maiores genocídios da História, ter sido feito por homens* e para homens: "[...] a origem do enorme e monstruoso está no fato de que foram homens e nada mais que homens os sujeitos e objetos de toda a experiência [...]" (SERENI, 2013, n.p., tradução minha). E se hoje nos encontramos submersos por uma pandemia, talvez o título da obra de estreia primoleviana ainda ecoe em nossos ouvidos: É isto um homem?
* Optamos aqui por usar o termo "homens", por questões tradutórias.
Referências:
FORTINI, Franco. In morte di Primo Levi. In: FORTINI,
Franco. Saggi ed epigrammi. A cura
di Luca Lenzini. Milano: Arnoldo Mondadori Editore, 2003, p. 1681-1683.
SERENI, Vittorio. Ritorno dalla notte. In: SERENI, Vittorio. Poesie e prose. A cura di Giulia Raboni con uno scritto di Pier Vincenzo Mengaldo. Milano: Mondadori, 2013.
como citar: CARMINATI, Helena Bressan. “Por que ler Primo Levi em tempos de Covid-19?”. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.6, jun. 2020.Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209675
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