La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Sostiene Pereira entre realidade e ficção: uma análise enunciativa das categorias tempo, espaço e pessoa, por Graziele Frangiotti

 

Fotos: pxhere.com


A publicação de Sostiene Pereira[1] de Antonio Tabucchi ocorre na Itália em 1994 e já no mesmo ano obtém grande reconhecimento da crítica. Prova disso é o recebimento de prêmios nacionais de grande prestígio, como o “Viareggio-Rèpaci” e o “Campiello”, além do internacional “Jean Monnet”, conferido em 1995.
A trama central tem como protagonista o jornalista católico Pereira, um homem que durante anos esteve à frente da seção criminal do maior jornal de Lisboa, mas que recebe o convite de dirigir a página cultural de uma nova publicação vespertina – o Lisboa –, tendo finalmente a oportunidade de realizar seu sonho de se dedicar à literatura.
Pereira é retratado como um homem acima do peso, solitário, cardiopata e totalmente avesso a qualquer questão política. De fato, contrariamente ao que sua profissão poderia sugerir, Pereira se mostra alheio ao que acontece ao seu redor, tanto que, em diversos momentos, caberá a outros personagens lhe apresentar as notícias do dia.
Todo esse distanciamento do mundo real, reforçado pela fixação no tema da morte e pelos monólogos diários com a esposa falecida, começará a ser paulatinamente alterado a partir do encontro com Francisco Monteiro Rossi, um jovem ítalo-lusitano recém-formado em filosofia que será contratado por Pereira para escrever obituários antecipados de grandes escritores. Além do jovem, também sua namorada, Marta, bem como a senhora alemã Ingeborg Delgado e o Dr. Cardoso exercerão um papel importante na definição de um novo modo de pensar e, posteriormente, de agir de Pereira. 
Monteiro Rossi, contudo, será aquele a quem Pereira dedicará maior estima e afeto. Esse carinho sem justificativa aparente fará com que Pereira chegue a se questionar sobre a origem desse sentimento. Seria o rapaz uma espécie de projeção do filho que nunca teve? Uma recordação de sua juventude? Fato é que Monteiro Rossi se mostrará cada vez menos comprometido com a literatura e sempre mais engajado na luta política, o que culminará em seu assassinato no interior do apartamento de Pereira, sem que este pudesse intervir para salvar o jovem protegido.
Esse acontecimento será determinante para a mudança de atitude de Pereira, que, num ato de extrema coragem, não apenas enganará astutamente a censura, mas também conseguirá publicar um artigo denunciando a violência do regime e apontando os culpados pela morte de Monteiro Rossi.
Até aqui nos limitamos a tratar alguns pontos centrais do romance apenas com o objetivo de introduzi-lo ao leitor. A seguir lançaremos mão do instrumental de análise oferecido pela teoria da enunciação de Benveniste[2] e reiterada por Fiorin[3] com o objetivo de tecermos algumas considerações sobre como se dá o percurso gerativo de sentido do texto e, em especial, para elucidarmos como são construídas as categorias tempo, espaço e pessoa e sua relação com o enunciador da obra.
Para Benveniste, a enunciação é:

este colocar em funcionamento a língua por um ato individual de utilização [...] é o ato mesmo de produzir um enunciado [...]. Este ato é o fato do locutor que mobiliza a língua por sua conta. [...] Deve-se considerá-la [a enunciação] como o fato do locutor, que toma a língua por instrumento, e nos caracteres linguísticos que marcam esta relação.[4]
 
Ela é compreendida como a ação de um locutor produzir um enunciado por meio da linguagem. Todo e qualquer enunciado pressuporá um sujeito produtor do texto –enunciador – que, por sua vez, projetará um tu que o ouve/lê – enunciatário.
De acordo com Benveniste, qualquer produção que se dê por meio da linguagem (seja ela visual, verbal, corporal etc.) pressupõe um eu enunciador que fala de um lugar e em um tempo específico. Em outras palavras, a enunciação é o lugar onde se instaura o sujeito; ela é o lugar do ego (eu), hic (aqui) et nunc (agora), elementos que estarão implícitos em todo e qualquer enunciado produzido em toda e qualquer língua.
Tomando como exemplo o enunciado Amanhã sairemos cedo daqui, estarão pressupostos um eu, um aqui e um agora, que, se explicitados, poderiam ser expressos como [Eu digo aqui e agora] Amanhã sairemos cedo daqui. O sujeito eu, o local aqui e o momento agora da enunciação funcionariam como pontos de ancoragem sobre os quais o enunciado construído na sequência se alicerçaria.
Na oração, o advérbio temporal amanhã introduz um marco temporal posterior ao momento agora da enunciação. Essa posterioridade do enunciado será reforçada pelo uso do futuro do presente em sairemos, ação que se dará em concomitância com o amanhã e em um momento posterior ao agora da enunciação.
Quanto à categoria pessoa, há o sujeito oculto nós que pode ser recuperado pela desinência em sairemos. Esse nós se distancia da primeira pessoa implícita na enunciação. Isso mostra que a pessoa envolvida na ação enunciada – sairemos – engloba o enunciador, mas abarca também outras pessoas.
Sobre a categoria espaço, o dêitico daqui cria o efeito de co-espacialidade com o aqui pressuposto na enunciação. Tem-se, portanto, o efeito de que o local de onde fala o enunciador é o mesmo onde o evento enunciado acontecerá.
Desenvolvendo o mesmo tipo de raciocínio em Sostiene Pereira, vemos que o texto inicia assim:
 
[Io dico qui e ora] Sostiene Pereira di averlo conosciuto in un giorno d’estate. Una magnifica giornata d’estate, soleggiata e ventilata, e Lisbona sfavillava. Pare che Pereira stesse in redazione, non sapeva che fare. [...] E lui, Pereira, rifletteva sulla morte. Quel bel giorno d’estate, con la brezza atlantica che accarezzava le cime degli alberi e il sole che splendeva, e con una città che scintillava sotto la sua finestra, e un azzurro, un azzurro mai visto, sostiene Pereira, di un nitore che quasi feriva gli occhi, lui si mise a pensare alla morte. Perché? Questo a Pereira è impossibile dirlo.[5]
 
No enunciado, existe a prevalência de estruturas linguísticas que marcam a anterioridade dos eventos em relação ao momento da enunciação, uma vez que a locução temporal in un giorno d’estate, atrelada a uma oração implícita no pretérito sostiene di averlo conosciuto, apontam para um momento anterior ao ora pressuposto na enunciação.
Vinculada e contemporânea à locução in un giorno d’estate, é inserida uma série de verbos conjugados no imperfetto: sfavillava, stesse sapeva, rifletteva, accarezzava, splendeva, scintillava, feriva, também eles anteriores ao ora do momento da enunciação. Essa sequência de verbos imperfectivos confere um efeito estático à cena, fazendo com que o período seja lido como a descrição do clima e do espaço onde as ações se desenvolvem: Lisboa.
Quanto à categoria pessoa, reconhecemos o io implícito na enunciação, que corresponde à imagem do autor do texto, e na sequência a apresentação por parte do narrador de um lui, Pereira.
O romance é projetado em grande medida com o intuito de fazer crer em uma realidade lembrada, sendo assim, há o constante recurso a debreagens enuncivas, um procedimento segundo o qual o(s) actante(s) do enunciado (ele/eles), o espaço do enunciado (naquele lugar) e o tempo do enunciado (então) são postos linguisticamente em oposição ao eu, aqui e agora fundados na enunciação. A seguir reportamos um exemplo: 

[Io dico qui e ora] Il giorno dopo Pereira restò in casa, sostiene. Si alzò tardi, fece colazione e mise da parte il romanzo di Bernanos, perché tanto sul "Lisboa" non sarebbe uscito. Frugò nella libreria e trovò le opere complete di Camilo Castelo Branco. Prese una novella a caso e cominciò a leggere la prima pagina. La trovò opprimente, non aveva la leggerezza e l'ironia dei francesi, era una storia cupa, nostalgica, piena di problemi e gravida di tragedie. Pereira si stancò presto. Avrebbe avuto voglia di parlare con il ritratto di sua moglie, ma rimandò la conversazione a più tardi. Allora si fece una frittata senza le erbe aromatiche, se la mangiò tutta e andò a coricarsi, si addormentò subito e fece un bel sogno. Poi si alzò e si mise a sedere su una poltrona a guardare le finestre. [...] Si mise a fissare le braccia delle palme che si agitavano al vento e pensò alla sua infanzia. Trascorse una buona parte del pomeriggio così, pensando alla sua infanzia.[6] 

No segmento, a ancoragem temporal do enunciado se dá sobre a locução Il giorno dopo, que semanticamente é anterior ao ora da enunciação. Com esse momento de referência estabelecido, abre-se o plano do não-agora, ou seja, o plano temporal do então ou naquele momento, exemplo de debreagem temporal enunciva. Em seguida, há um elenco de verbos no passato remoto (resto, alzò, fece, mise, frugò, trovò etc.), que confere maior dinamicidade ao texto, evidencia a concomitância dos eventos em relação ao momento de referência pretérito (il giorno dopo) e a anterioridade em relação ao momento da enunciação (ora). Há também ocorrências de condizionale passato (sarebbe uscito, avrebbe avuto), cujo objetivo é expressar a ideia de futuro no pretérito, isto é, em um dado momento do passado, o actante constrói uma expectativa de ação voltada para o futuro.
É possível ainda identificar uma debreagem actancial, ou seja, uma projeção da categoria pessoa para fora do sujeito da enunciação, mecanismo que coloca em foco um lui, no caso, Pereira, além de uma debreagem espacial, que insere o local do enunciado – in casa – como distante do qui da enunciação.
Segundo sustenta Benveniste, quando em um texto há a preponderância de debreagens enuncivas, com tempos verbais, advérbios locativos e pronomes que se desprendem da enunciação, cria-se um efeito de sentido de objetividade, de isenção daquele que descreve os fatos e, até mesmo, de não comprometimento com os eventos narrados. No caso de Sostiene Pereira, por meio dessa estratégia, percebe-se um distanciamento entre o enunciador e os actantes da história, como se aquele não quisesse se comprometer ou ser responsabilizado pelos pensamentos e/ou atitudes destes.
Mas Sostiene Pereira não se assenta apenas no plano da memória, há também inúmeras ocorrências de debreagens enunciativas, vale dizer, uma estratégia realizada através de formas linguísticas que gera a aproximação do tempo e do espaço em que se situam o enunciador do tempo e do espaço em que age Pereira.
Conforme Fiorin[7], a debreagem enunciativa se dá quando no enunciado se retomam elementos da enunciação, criando um efeito de sentido de coincidência entre essas duas instâncias.
Como dissemos antes, em Sostiene Pereira há a prevalência de tempos verbais cujo marco de referência temporal é anterior ao momento da enunciação. Por outro lado, são também relevantes as ocorrências de tempos verbais enunciativos, ou seja, tempos que têm como referência uma ancoragem temporal presente e que se ordenam em concomitância ou não-concomitância em relação a esse presente[8]. É o que vemos a seguir: 

[Io dico qui e ora] E anche lui a quel tempo suonava la viola nelle feste studentesche, e era magro e agile, e faceva innamorare le ragazze. Tante belle ragazze che andavano matte per lui. E lui invece si era appassionato di una ragazzina fragile e pallida, che scriveva poesia e spesso aveva mal di testa. E poi pensò a altre cose della sua vita, ma queste Pereira non vuole riferirle, perché sostiene che sono sue e solo sue che non aggiungono niente a quella sera e a quella festa in cui era capitato suo malgrado.[9] 

Nesse ponto da narrativa, são relembrados aspectos da juventude de Pereira. Para gerar esse efeito, são empregados verbos conjugados no tempo verbal imperfectivo suonava, era, faceva. Note-se que o marco temporal inicial do enunciado é a quel tempo, anterior ao momento da enunciação, e que o tempo verbal imperfetto estabelecerá uma relação de contemporaneidade com esse pretérito expresso na ancoragem temporal. Posteriormente, passa-se à utilização de verbos no presente indicativo, como vuole, sostiene, sono e aggiungono, que têm como marco temporal implícito um momento atual, que coincide com o agora da enunciação. Essa coincidência instala o sentido de concomitância entre os dois eventos, como se Pereira estivesse dizendo que quer falar de sua vida exatamente ao mesmo tempo em que o enunciador profere o enunciado.
Esse movimento temporal aproxima Pereira do enunciador, como se eles estivessem efetivamente interagindo, dando a impressão de que eles podem estar inclusive compartilhando o mesmo espaço, tendo em vista que quella festa se contrapõe ao aqui onde se situam enunciador e actante.
Um segundo exemplo de debreagem enunciativa dentre os inúmeros detectados no texto é:
 
[Io dico qui e ora] Quel pomeriggio, sostiene Pereira, fece un sogno. Un sogno bellissimo, della sua giovinezza. Ma preferisce non rivelarlo, perché i sogni non si devono rilevare, sostiene. Ammette solo che era felice e che si trovava d’inverno su una spiaggia del nord oltre Coimbra, alla Granja, magari, insieme con lui c’era una persona di cui non vuole svelare l’identità.[10] 

O enunciado inicia com quel pomeriggio, há a continuação da oração em fece un sogno, que, com o uso do passato remoto, permite interpretar que o sonho de Pereira ocorreu simultaneamente àquela tarde. Mais adiante, há um aposto – sostiene Pereira –, que não se relaciona semanticamente com quel pomeriggio, dado que o momento em que Pereira realiza a ação de afirmar não coincide com quel pomeriggio, e que marca uma coincidência com o agora da enunciação. Mais uma vez, é como se Pereira afirmasse algo ao mesmo tempo em que o enunciador produz o texto.
O terceiro período Ma preferisce non rivelarlo, perché i sogni non si devono rivelare, sostiene, assim como o quarto Ammette solo che era felice [...] c’era una persona di cui non vuole svelare l’identità seguem a mesma tendência. Com efeito, todos eles dizem respeito a situações que pretendem ser lidas como simultâneas à enunciação, como se Pereira e o enunciador estivessem juntos na cena.
Através do exame dessas estratégias linguísticas, vemos como são construídos os efeitos de sentido que ora distanciam o enunciador de Pereira ora os aproximam. Nessa perspectiva, quando a narrativa tem como foco a memória de Pereira, a debreagem é de tipo enunciva, o que significa que os pronomes são preponderantemente conectados à terceira pessoa, os tempos verbais são conjugados para demonstrar a anterioridade dos eventos e os adjuntos adverbiais são ligados a um não-aqui. Já quando a narrativa se concentra no testemunho, a interação toma a forma de um aparente diálogo entre Pereira e o enunciador, o que fica evidente por meio da utilização de debreagens enunciativas.
É importante destacar que diferentemente do que se vê no plano narrativo da memória, onde datas e locais são retomados com frequência, não há quase informações sobre o local ou o momento onde o diálogo ocorre, tanto que será apenas no subtítulo da obra, posto na contracapa do livro, que se saberá que essa interação é um testemunho. Mas afinal qual seria o contexto? Teria sido Pereira capturado pela polícia salazarista? Estaria ele narrando os fatos a um jornalista? Contando sua experiência a um amigo?
Essas respostas não constam no romance, mas esse mistério é alimentado do início ao fim do texto. O próprio título Sostiene Pereira reforça a importância dessa interação assim como o mote Sostiene Pereira, reiterado à exaustão no início e no fim de cada um dos 25 capítulos. Para desfazer esse suspense, o leitor deverá recorrer a um texto publicado por Antonio Tabucchi em setembro de 1994 no jornal Il Gazzettino e posteriormente acrescido como nota de encerramento[11] à edição italiana. Nela, Tabucchi informa: 

Il dottor Pereira mi visitò per la prima volta in una sera di settembre del 1992. A quell’epoca lui non si chiamava Pereira, non aveva ancora i tratti definiti, era qualcosa di vago, di sfuggente e di sfumato, ma aveva già voglia di essere protagonista di un libro. Era solo un personaggio in cerca d’autore.[...] In quel privilegiato spazio che precede il momento di prendere sonno e che per me è lo spazio più idoneo per ricevere le visite dei miei personaggi, gli dissi che tornasse ancora, che si confidasse con me, che mi raccontasse la sua storia. Lui tornò e io gli trovai subito un nome: Pereira.[12]   
 
No excerto, é patente o jogo entre realidade e ficção. Fica evidente que o fato de ter conhecido um jornalista que denunciou o regime, bem como o horror desencadeado pela crueldade da ditadura correspondem a uma esfera, por assim dizer, mais próxima da realidade. Por outro lado, a aparição quase fantasmagórica e onírica de um personagem em busca de um autor, bem como o diálogo com ele por meses a fio estão na esfera da ficção, sendo o resultado da inventividade e do trabalho criativo do escritor.
Tudo isso permite avançar nossa hipótese de que, quando tratando da memória de Pereira e dos eventos por ele narrados, o enunciado se desvincula da enunciação numa tentativa de criar um sentido de objetividade e de imparcialidade; enquanto, nos momentos do testemunho propriamente dito, que, embora imaginado, pretende ser lido como real, há o efeito oposto, com uma maior aproximação entre o sujeito enunciador (simulacro do autor) e o doutor Pereira, em uma relação de envolvimento profundo e parceria entre as duas figuras.
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Como citar: FRANGIOTTI, Graziele. "Sostiene Pereira entre realidade e ficção:  uma análise enunciativa das categorias tempo, espaço e pessoa". In "Revista de Literatura Italiana", v. 2, n. 4, abr. 2021.  Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/222427



[1] TABUCCHI, Antonio. Sostiene Pereira: una testimonianza. Milano: Feltrinelli, 2003 [1994].
[2] BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral II. Tradução de Eduardo Guimarães. Campinas: Pontes, 1989.
[3] FIORIN, José Luiz. Introdução à Linguística II: princípios de análise. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2014. 
[4] BENVENISTE, Émile, op. cit., p. 82.
[5] TABUCCHI, Antonio, op. cit., p. 6. Inserimos entre colchetes a enunciação implícita ao enunciado, pois, como afirmamos anteriormente, essa é uma instância inerente a todas as línguas e linguagens.
 [6]  TABUCCHI, Antonio, op. cit., p. 85 (destaques nossos).
[7]  FIORIN, José Luiz, op. cit., p. 178
[8] Para uma maior compreensão dos tempos verbais envolvidos no sistema enuncivo e enunciativo, sugere-se a leitura do capítulo Pragmática, em Introdução à Linguística.
[9]  TABUCCHI, Antonio, op. cit., p. 11. (destaques nossos)
[10] TABUCCHI, Antonio, op. cit, p. 39. (destaques nossos)
[11] Considerando as observações de Gérard Genette em Paratextos editoriais (2009), a nota é definida como “um enunciado de tamanho variável (basta uma palavra) relativo a um segmento mais ou menos determinado de um texto” (p. 281); prefácios e posfácios, por outro lado, referem-se a um “discurso produzido a propósito do texto que segue ou que antecede”. Tendo essas diferenças em mente, acreditamos que o texto presente ao fim do livro seja, de fato, um posfácio, já que explica a gênese da obra como um todo, não focalizando um segmento particular do texto. Apesar disso, optamos por manter o termo nota em congruência com as edições de Sostiene Pereira consultadas. 
[12]  Faz-se necessário dizer que na primeira edição italiana publicada pela Feltrinelli em 1994 a nota não constava no volume. Na edição de 1995, a nota é adicionada na parte final do livro, o que mostra a preocupação dos editores ou até mesmo de seu autor em incorporar esclarecimentos sobre a obra. Na tradução portuguesa, traduzida por José Lima e publicada em 1994, a nota também é inserida após o romance. Já na tradução brasileira, realizada por Roberta Barni e publicada em 1995, a nota foi colocada antes do início do romance, o que nos parece interessante, pois demonstra que, provavelmente, tradutora e/ou editores podem tê-la considerado fundamental para a compreensão do texto, fato que justificaria a alteração de sua posição.