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Literatura Italiana Traduzida ISSN 2675-4363
Elena Santi
Fabio Franzin
Patricia Peterle
em
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Theo van Rysselberghe (1862-1926) - Sunset at Ambletsuse, 1899
Fabio Franzin - Sesti/Gesti Fonte: Poetarum Silva |
Entrevista com Fabio Franzin (Vozes, p. 399)
Vozes: O que significa ser poeta hoje? O que é um poeta? O poeta é um canton nostálgico da palavra já esgarçada e obsolota? É necessáriamente um opositor do mundo?
FF: Ser poeta hoje, creio que não seja muito diferente de tê-lo sido em um passado mais ou menos distante. A figura do poeta é e sempre foi, em um certo sentido, marginal no seio da sociedade. De um lado, por sua natureza excêntrica e não alinhada, de vagabundo da palavra, de arqueólogo da luz. De outro, infelizmente, mas também por sorte, pela condição em que é obrigado a operar, no deserto da solidão ou, ainda por outro ângulo, no oásis da sua solidão, livre dos vínculos habituais. Mas o poeta não é e nem nunca foi aquela figura alheia à realidade mundana, aquele ser extravagante, um pouco infeliz e com a cabeça nas nuvens, como foi por muito tempo pintado; inclusive pela escola que, em primeiro lugar, deveria saber extrair o homem, e sua obra, do personagem. Eu acredito na figura do poeta como testemunha, como partigiano-sentinela em defesa de um núcleo, de um ninho da verdade em uma realidade sempre mais cínica e virtual. Vejam, eu acredito que a realidade quase desapareceu em boa parte da poesia da segunda metade do século XX (ainda que houvesse exceções altíssimas e iluminadas). Cega pela fúria das vanguardas, espremida sob um estrato de palavras insípidas ou, para citar perguntas da entrevista, “desgastadas ou obsoletas”. Perdida no prurido do próprio umbigo, cerrado nas camadas adiposas de um tolo “bem-estar”, de uma indiferença mascarada pela busca. O poeta é um homem, em primeiro lugar, um homem que vive as contradições, as alegrias ou as violências cometidas no mundo; mas não pode ser opositor deste: “Mundo sejas, e bom / existas boamente” (“Mondo sii, e buono / esisti buonamente”), escreveu Zanzotto: quanto amor e quanta trepidação há, neste dístico, para o mundo, diga-se realidade. É possível tentar defendê-lo, no mais astuto e corajoso dos atos, como Ulisses contra Polifemo, ou na mais desconjuntada das utopias, como Dom Quixote. É possível ter a audácia de descer no inferno, como Dante. É possível sucumbir às perseguições da história, como Levi, Lorca, Mandel’štam, Celan... Ou ainda, é possível simplesmente espalhar uma semente em um terreno árido e esperar uma chuva não anunciada pela meteorologia. Estas são ações, reações, que a literatura, a verdadeira, sempre fez suas. Gesto de amor, não ato subversivo.
Fabio Franzin - Corpo dea realtà/Corpo della realtà Fonte: Il Giornalaccio |
Vozes: O elemento essencial para um poeta é a palavra, a matéria-prima a ser buscada, trabalhada e depois “fixada” na página em branco. Quais relações possui com a palavra?
Fabio Franzin - Fabrica e altre poesie Fonte: Blog Rainews |
Vozes: Quais poetas ou escritores (italianos ou estrangeiros) operam na sua escritura? E em que modo se constroem estas relações de leitura, escritura e poéticas?

como citar: SANTI, Elena. PETERLE, Patricia. Gesto de amor, não como ato subversivo - Entrevista com Fabio Franzin. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.5, jun. 2020.Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209826
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