La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

O Mar Como Material: escultura e poesia, por Agnes Ghisi

La Vague, de Mario Ceroli


Il Mare Come Materiale  
                                     allo scultore Mario Ceroli

Scolpire il mare...

Le sue musiche...

                  Lunghe,
le mobili sue cordigliere
crestate di neve...

                 Scolpire
- bluastre - le schegge
delle sue ire...

                  I frantumi
- contro murate o scogliere -
delle sue euforie...

                    Filarne il vetro in làmine
semiviperine...

                    In taglienti
nastri d'alghe...

                      Fissarne
- sotto le trasparenti
batterie del cielo - le bianche
catastrofi...

                      Lignificare
le esterrefatte allegrie
di chi vi si tuffa...

                           Scolpire
il mare fino a farne il volto
del dileguante...

                      Dire
(in calmerìa o in fortunale)
l'indicibile usando
il mare come materiale...

Il mare come costruzione...

Il mare come invenzione...

      Il Mare come Materiale é um poema de Giorgio Caproni, presente na coletânea Il Conte di Kevenhüller (1986) e é dedicado ao escultor Mario Ceroli. Escrito na "fase final" do poeta, este é um poema cujos versos se movimentam no branco da página: no início, temos um mar calmo... reticente.... Que então vai se agitando, e ocupando a página com seu movimento, quebrando os versos, encadeando as frases; o movimento se dá também pela constante ação, exposta pelos verbos que, por vezes, se repetem: scolpire, scolpire, filarne, fissarne e aqui podemos ainda destacar a partícula partitiva "ne", como se, de fato, fosse possível separar um pedaço de mar, reinventá-lo, reformulá-lo, transferi-lo para um verso numa página em branco, ou para um pedaço de madeira numa escultura; como se o mar pudesse ser reinventado , lignificare, scolpire, e por fim, dire. Um movimento que cessa (no poema, reticente) no limite do impossível: a (re)invenção do mar enquanto novo material, poético e artístico.  O mar enquanto palavra, enquanto peça de madeira ou vidro, moldáveis.

A invenção da escultura e do poema, que não são o mar, mas algo à parte dele, que busca representá-lo usando novos materiais — a dureza da madeira, a labilidade da palavra, a fragilidade perigosa do vidro —, uma invenção construída e elaborada, que é tão selvagem quanto o próprio mar, tão indiscernível em seu instante quanto este, pois se mantém em movimento. É "a ideia da poesia como ficção e engano [...] encenando uma realidade realíssima: aparência e dissolvência", portanto, não um realismo, mas sim "uma poética do real" (PETERLE, 2017, p. 24), e da mesma maneira a escultura: um movimento do real, numa ilusão.






Maestrale é outra escultura do mar feita por Ceroli, dessa vez com cores e brilhos que também enganam o olhar, apresentando a ilusão de uma parte do indivisível. Destacamos um trecho da tradução de Aurora Fornoni Bernardini, que segue completa abaixo, para se pensar essa segunda escultura: Fiar seu vidro em lâminas / semiviperinas... // Em cortantes / fitas d'alga... // Fixar / - sob as transparentes / baterias do céu - suas brancas / catástrofes...


O Mar como Material 
                                     ao escultor Mario Ceroli

Esculpir o mar...

As suas músicas...

                  Longas,
suas móveis cordilheiras
crestadas de neve...

                 Esculpir
- azuladas -as lascas
de suas iras...

                  Os cacos
- contra muralhas ou rochedos -
duas suas euforias...

                    Fiar seu vidro em lâmina
semiviperinas...

                    Em cortantes
fitas d'algas...

                      Fixar
-sob as transparentes
baterias do céu - suas brancas
catástrofes...

                      Lignificar
as estupefatas alegrias
de quem nele mergulhar...

                           Esculpir
o mar até torná-lo o rosto
de quem desaparece...

                      Dizer
(na calmaria ou na tempestade)
o indizível usando
o mar como material...

O mar como construção...

O mar como invenção...


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

PETERLE, Patricia. "Introdução". In:  CAPRONI, Giorgio. A porta morgana: ensaios sobre poesia e tradução. Prefácio, Enrico Testa; organização e tradução, Patricia Peterle. São Paulo: Rafael Copetti Editor, 2017, pp. 17 - 38.

CAPRONI, Giorgio. "Il mare come materiale". In: A coisa perdida: Agamben comenta Caproni. Org. e trad. Aurora Fornoni Bernardini. Florianópolis: EdUFSC, 2011, pp. 288 - 291 


como citar: GHISI, Agnes. O Mar Como Material: escultura e poesia. In Literatura Italiana Traduzida, v.1., n.6, jun. 2020.Disponível em https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/209777