La poesia e la sapienza del mondo, di Marco Ceriani

Seis poetas italianos, por Aurora Fornoni Bernardini


Ennio Morlotti (1910-1992) - Fiori



Como em minhas viagens sempre gosto de ler poesia e sobre poesia, em minha última viagem à Itália li alguns livros de Alfonso Berardinelli que encontrei nas livrarias, sobre o assunto, como La poesia verso la prosa. Controversie sulla lirica moderna[1]; Poesia non poesia[2]; Il pubblico della poesia[3], Alfonso Berardinelli, Franco Cordelli (2015), havendo já lido no Brasil Da poesia à Prosa[4], e fui anotando o nome dos poetas e dos poemas que, por alguma característica, ele apreciava. Entre os que guardei, estão os seis abaixo.
Como concordo com a ideia que a melhor leitura é a tradução (atenta, claro), resolvi traduzir os poemas para o português. Não são poemas herméticos, logo não cheguei a descobrir aquela “língua pura” que às vezes os tradutores descobrem, como diz Walter Bejamin, mas me ative ao “tom” de cada poema, o que considero extremamente importante conservar na tradução. O tom de Sereni e Fortini é grave, sóbrio: evitei portanto abreviações (tipo para: pra) e usei uma linguagem culta, “nero” foi traduzido, por “ atro”, por exemplo.

1. Vittorio Sereni

I versi
Se ne scrivono ancora.
Si pensa ad essi mentendo
ai trepidi occhi che ti fanno gli auguri
l’ultima sera dell’anno.
Se ne scrivono solo in negativo
dentro un nero di anni
come pagando un fastidioso debito
che era vecchio di anni.
No, non è più felice l’esercizio.
Ridono alcuni: tu scrivevi per l’Arte.
Nemmeno io volevo questo che volevo ben altro.
Si fanno versi per scrollare un peso
e passare al seguente. Ma c’è sempre
qualche peso di troppo, non c’è mai
alcun verso che basti
se domani tu stesso te ne scordi.[5]
Os versos
Ainda se escrevem.
Neles pensa-se mentindo
aos trépidos olhos que na última noite do ano
desejam-te o melhor.
Escrevem-se só no negativo
dentro de um atro de anos
como pagando uma dívida enfadonha
velha de anos.
Não, não é mais feliz o exercício.
Riem alguns: tu escrevias pela Arte.
Nem eu queria isso que queria outra coisa.
Fazem-se versos para sacudir um peso
e passar ao seguinte. Mas sempre há
algum peso a mais, não há nunca
algum verso que baste
se amanhã tu mesmo o esquecerás.

2. Franco Fortini

Gli ospiti
      I presupposti da cui moviamo non sono arbitrari.
La sola cosa che importa è
il movimento reale che abolisce
lo stato di cose presente.
      Tutto è divenuto gravemente oscuro.
Nulla che prima non sia perduto ci serve.
La verità cade fuori della coscienza.
Non sapremo se avremo avuto ragione.
Ma guarda come pendono le loro stuoie
attraverso la tua stanza.
      Come distribuiscono le loro masserizie,
come spartiscono il loro bene, come
fra poco mangeranno la nostra verità!
Di noi spiriti curiosi in ascolto
prima del sonno parleranno.[6]
Os hóspedes
     Não são arbitrários os pressupostos que nos movem.
A única coisa que importa é
O movimento real que extingue
O estado presente das coisas.
     Tudo tornou-se gravemente obscuro.
Nada nos serve que antes não se perca.
Cai fora da consciência a verdade.
Não saberemos se estivermos certos.
Vê só como pendem suas esteiras
pelo quarto que é teu.
     Como distribuem seus trastes,
como repartem seu bem, como
daqui a pouco hão de comer nossa verdade!
Antes do sono de nós
falarão espíritos curiosos à escuta.

3. Pier Paolo Pasolini

Io sono una forza del passato.
Solo nella tradizione è il mio amore.
Vengo dai ruderi, dalle chiese,
dalle pale d’altare, dai borghi
abbandonati sugli Appennini o le Prealpi,
dove sono vissuti i fratelli.
Giro per la Tuscolana come un pazzo,
per l’Appia come un cane senza padrone.
O guardo i crepuscoli, le mattine
su Roma, sulla Ciociaria, sul mondo,
come i primi atti del Dopostoria,
cui io assisto, per privilegio d’anagrafe,
sull’orlo estremo di qualche età
sepolta. Mostruoso è chi è nato
dalle viscere di una donna morta.
E io, feto adulto, mi aggiro
più moderno di ogni moderno
a cercare i fratelli che non sono più.[7]

Eu sou uma força do passado.
Apenas na tradição está meu amor.
Venho das ruínas, das igrejas,
dos retábulos, dos burgos
abandonados nos Apeninos ou Prealpes,
onde viveram os irmãos.
Vagueio pela Tuscolana feito um louco,
pela Appia feito um cão sem dono.
Ou olho para os crepúsculos, as manhãs
pairando sobre Roma, a Ciociaria, o mundo,
como os primeiros atos do Após-História,
aos quais assisto, por um privilégio do registro,
na orla extrema de alguma idade
sepulta. Monstruoso é quem nasceu
das vísceras de uma mulher morta.
E eu, feto adulto, ando à volta
mais moderno que qualquer moderno
à procura dos irmãos que já não são.

4. Andrea Zanzotto

“Sì, ancora la neve”:

       Che sarà della neve
che sarà di noi?
Una curva sul ghiaccio
e poi e poi... ma i pini, i pini
tutti uscenti alla neve, e fin l’ultima età
circondata da pini. Sic et simpliciter?

E perché si è – il mondo pinoso, il mondo nevoso –
perché si è fatto bambucci-ucci, odore di cristianucci,
perché si è fatto noi, roba per noi?
E questo valere in persona ed ex-persona
un solo possibile ed ex-possibile?
Hölderlin: “siamo un segno senza significato”:
ma dove le due serie entrano in contatto?
Ma è vero? e che sarà di noi?
E tu perché, perché tu?
E perché e che fanno i grandi oggetti
e tutte le cose-cause
e il radiante e il radioso?
II nucleo stellare
là in fondo alla curva di ghiaccio,
versi invettive calligrammi ricchezze, sì,
ma che sarà della neve dei pini
di quello che non sta e sta là, in fondo?[8]
“Sim, a neve ainda”:

       O que será da neve
 que será de nós?
Uma curva no gelo
e depois, depois... mas e os pinheiros, os pinheiros
saindo todos da neve, e até a última idade
circundada por eles . Sic et simpliciter?

E porque se fez – o mundo pínico, o mundo nevoso –
Porque se fez meninão-ão, cheiro de cristão,
porque se fez nós, coisa para nós?
E este valer em pessoa e ex-pessoa
um único possível e ex-possível?
Hölderlin: “ somos um signo sem significado”:
mas onde é que as duas séries entram em contato?
Mas é verdade? E o que será de nós?
E tu, por que, por que tu?
E por que e o que fazem os grandes objetos
e todas as coisas-causas
E o radiante e o radioso?
 O núcleo estrelar
lá no fundo da curva de gelo
jorre invectivas caligramas riquezas, sim,
mas o que será da neve dos pinheiros
daquilo que não está e está lá, no fundo?

5. Amelia Rosselli

Contiamo infiniti cadaveri. Siamo l’ultima specie umana.
Siamo il cadavere che flotta putrefatto su della sua passione!
La calma non mi nutriva il sol-leone era il mio desiderio.
Il mio pio desiderio era di vincere la battaglia, il male,
la tristezza, le fandonie, l’incoscienza, la pluralità
dei mali le fandonie, le incoscienze le somministrazioni
d’ogni male, d’ogni bene, d’ogni battaglia, d’ogni dovere
d’ogni fandonia: la crudeltà a parte il gioco riposto
attraverso il filtro dell’incoscienza. Amore amore che
cadi e giaci supino la tua stella è la mia dimora.
Caduta sulla linea di battaglia. La bontà era un ritornello
che non mi fregava ma ero fregata da essa! La linea di
demarcazione tra poveri e ricchi.[9]

Contamos infinitos cadáveres. Somos a última espécie humana.
Somos o cadáver que flutua putrefato sobre uma sua paixão!
A calma não me alimentava o sol-leão era o meu desejo.
Meu pio desejo era de vencer a batalha, o mal,
a tristeza, as lorotas, a falta de consciência, a pluralidade
dos males, as lorotas, as faltas de consciência as subministrações
de todo mal, de todo bem, de toda batalha, de todo dever
de toda lorota: a crueldade à parte o jogo reposto
através do filtro da insconsciência. Amor amor que
cais e jazes supino a tua estrela é minha moradia.
Caída na linha de batalha. A bondade era um refrão
que não me ludibriava mas o era por ela! A linha de
demarcação entre pobres e ricos.


6. Sandro Penna

Il mare è tutto azzurro.
Il mare è tutto calmo.
Nel cuore è quasi un urlo
di gioia. E tutto è calmo. (1937)

È pur dolce il ritrovarsi
per contrada sconosciuta.
Un ragazzo con la tuta
ora passa accanto a te.

Tu ne pensi alla sua vita
– a quel desco che l’aspetta.
E la stanca bicicletta
ch’egli posa accanto a sé.

Ma tu resti sulla strada
sconosciuta ed infinita.
Tu non chiedi alla tua vita
che restare ormai com’è. (1939) [10]
O mar é todo azul.
O mar é todo calmo.
No imo é quase um urro
de alegria. E tudo é calmo. (1937)

É doce no entanto o reencontrar-se
em rincão desconhecido.
Um rapaz de macacão
passa agora ao teu lado.

Tu pensas na sua vida
– na mesa posta que o espera.
E na exausta bicicleta
que ele encosta junto a si.

Mas tu ficas no caminho
desconhecido e sem fim.
Tu só pedes à tua vida
Pra ficar como já é. (1939)

______________________

Como citar: BERNARDINI, Aurora Fornoni. “Seis poetas italianos”. In "Literatura Italiana Traduzida", v.1., n.8, ago. 2020. Disponível em:

https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/210272



[1] BERARDINELLI, Alfonso. La poesia verso la prosa. Controversie sulla lirica moderna. Torino: Bollati Boringhieri, 1994.
[2] BERARDINELLI, Alfonso. Poesia e non poesia. Torino: Einaudi, 2008.
[3] BERARDINELLI, Alfonso; CORDELLI, Franco. Il pubblico della poesia. Roma: Casrelvecchi, 2015.
[4] BERARDINELLI, Alfonso. Da poesia à prosa. Maria Betânia Amoroso (org.). Trad. Mauricio Santana Dias. São Paulo: Cosac Naify, 2007.
[5] De: SERENI, Vittorio. Gli strumenti umani. Torino: Einaudi, 1965.
[6] De: FORTINI, Franco. Questo muro. Milano: Arnoldo Mondadori, 1973.
[7] De: PASOLINI, Pier Paolo. Poesia in forma di rosa. Milano: Garzanti, 1962.
[8] De: ZANZOTTO, Andrea. La beltà. Milano: Mondadori, 1968.
[9] De: ROSSELLI, Amelia. Variazioni beliche. Milano: Garzanti, 1964.
[10] De: PENNA, Sandro. Tutte le poesie. Milano: Garzanti, 1970.