- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Literatura Italiana Traduzida ISSN 2675-4363
Aurora Fornoni Bernardini
poesia italiana
tradução
em
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos
Como em minhas viagens sempre gosto de ler poesia
e sobre poesia, em minha última viagem à Itália li alguns livros de Alfonso
Berardinelli que encontrei nas livrarias, sobre o assunto, como La poesia verso la prosa. Controversie
sulla lirica moderna[1]; Poesia non poesia[2]; Il pubblico
della poesia[3], Alfonso Berardinelli, Franco Cordelli
(2015), havendo já lido no Brasil Da poesia à Prosa[4],
e fui anotando o nome dos poetas e dos poemas que, por alguma característica,
ele apreciava. Entre os que guardei, estão os seis abaixo.
Como concordo com a ideia que a
melhor leitura é a tradução (atenta, claro), resolvi traduzir os poemas para o
português. Não são poemas herméticos, logo não cheguei a descobrir aquela “língua
pura” que às vezes os tradutores descobrem, como diz Walter Bejamin, mas me
ative ao “tom” de cada poema, o que considero extremamente importante conservar
na tradução. O tom de Sereni e Fortini é grave, sóbrio: evitei portanto
abreviações (tipo para: pra) e usei uma linguagem culta, “nero” foi traduzido,
por “ atro”, por exemplo.
1. Vittorio Sereni
I versi
Se ne scrivono ancora.
Si pensa ad essi mentendo
ai trepidi occhi che ti fanno gli auguri
l’ultima sera dell’anno.
Se ne scrivono solo in negativo
dentro un nero di anni
come pagando un fastidioso debito
che era vecchio di anni.
No, non è più felice l’esercizio.
Ridono alcuni: tu scrivevi per l’Arte.
Nemmeno io volevo questo che volevo ben altro.
Si fanno versi per scrollare un peso
e passare al seguente. Ma c’è sempre
qualche peso di troppo, non c’è mai
alcun verso che basti
se domani tu stesso te ne scordi.[5]
|
Os versos
Ainda se escrevem.
Neles pensa-se mentindo
aos trépidos olhos que na última noite do ano
desejam-te o melhor.
Escrevem-se só no negativo
dentro de um atro de anos
como pagando uma dívida enfadonha
velha de anos.
Não, não é mais feliz o exercício.
Riem alguns: tu escrevias pela Arte.
Nem eu queria isso que queria outra coisa.
Fazem-se versos para sacudir um peso
e passar ao seguinte. Mas sempre há
algum peso a mais, não há nunca
algum verso que baste
se amanhã tu mesmo o esquecerás.
|
2. Franco
Fortini
Gli ospiti
I presupposti da cui moviamo non sono
arbitrari.
La sola cosa che
importa è
il movimento reale che
abolisce
lo stato di cose
presente.
Tutto è divenuto gravemente oscuro.
Nulla che prima non sia
perduto ci serve.
La verità cade fuori
della coscienza.
Non sapremo se avremo
avuto ragione.
Ma guarda come pendono
le loro stuoie
attraverso la tua
stanza.
Come distribuiscono le loro masserizie,
come spartiscono il
loro bene, come
fra poco mangeranno la
nostra verità!
Di noi spiriti curiosi
in ascolto
prima del sonno
parleranno.[6]
|
Os hóspedes
Não são arbitrários os
pressupostos que nos movem.
A única coisa que importa é
O movimento real que extingue
O estado presente das coisas.
Tudo tornou-se gravemente
obscuro.
Nada nos serve que antes não se perca.
Cai fora da consciência a verdade.
Não saberemos se estivermos certos.
Vê só como pendem suas esteiras
pelo quarto que é teu.
Como distribuem seus
trastes,
como repartem seu bem, como
daqui a pouco hão de comer nossa verdade!
Antes do sono de nós
falarão espíritos curiosos à escuta.
|
3. Pier Paolo Pasolini
Io sono una forza del
passato.
Solo nella tradizione è
il mio amore.
Vengo dai ruderi, dalle
chiese,
dalle pale d’altare,
dai borghi
abbandonati sugli
Appennini o le Prealpi,
dove sono vissuti i
fratelli.
Giro per la Tuscolana
come un pazzo,
per l’Appia come un
cane senza padrone.
O guardo i crepuscoli,
le mattine
su Roma, sulla
Ciociaria, sul mondo,
come i primi atti del
Dopostoria,
cui io assisto, per
privilegio d’anagrafe,
sull’orlo estremo di
qualche età
sepolta. Mostruoso è
chi è nato
dalle viscere di una
donna morta.
E io, feto adulto, mi
aggiro
più moderno di ogni
moderno
a cercare i fratelli
che non sono più.[7]
|
Eu sou uma força do passado.
Apenas na tradição está meu amor.
Venho das ruínas, das igrejas,
dos retábulos, dos burgos
abandonados nos Apeninos ou Prealpes,
onde viveram os irmãos.
Vagueio pela Tuscolana feito um louco,
pela Appia feito um cão sem dono.
Ou olho para os crepúsculos, as manhãs
pairando sobre Roma, a Ciociaria, o mundo,
como os primeiros atos do Após-História,
aos quais assisto, por um privilégio do registro,
na orla extrema de alguma idade
sepulta. Monstruoso é quem nasceu
das vísceras de uma mulher morta.
E eu, feto adulto, ando à volta
mais moderno que qualquer moderno
à procura dos irmãos que já não são.
|
4. Andrea
Zanzotto
“Sì, ancora la neve”:
Che sarà della neve
che sarà di noi?
Una curva sul ghiaccio
e poi e poi... ma i
pini, i pini
tutti uscenti alla
neve, e fin l’ultima età
circondata da pini. Sic
et simpliciter?
E perché si è – il
mondo pinoso, il mondo nevoso –
perché si è fatto
bambucci-ucci, odore di cristianucci,
perché si è fatto noi,
roba per noi?
E questo valere in
persona ed ex-persona
un solo possibile ed
ex-possibile?
Hölderlin: “siamo un
segno senza significato”:
ma dove le due serie
entrano in contatto?
Ma è vero? e che sarà
di noi?
E tu perché, perché tu?
E perché e che fanno i
grandi oggetti
e tutte le cose-cause
e il radiante e il
radioso?
II nucleo stellare
là in fondo alla curva
di ghiaccio,
versi invettive
calligrammi ricchezze, sì,
ma che sarà della neve
dei pini
di quello che non sta e
sta là, in fondo?[8]
|
“Sim, a neve ainda”:
O que será da neve
que será de nós?
Uma curva no gelo
e depois, depois... mas e os pinheiros, os pinheiros
saindo todos da neve, e até a última idade
circundada por eles . Sic et simpliciter?
E porque se fez – o mundo pínico, o mundo nevoso –
Porque se fez meninão-ão, cheiro de cristão,
porque se fez nós, coisa para nós?
E este valer em pessoa e ex-pessoa
um único possível e ex-possível?
Hölderlin: “ somos um signo sem significado”:
mas onde é que as duas séries entram em contato?
Mas é verdade? E o que será de nós?
E tu, por que, por que tu?
E por que e o que fazem os grandes objetos
e todas as coisas-causas
E o radiante e o radioso?
O núcleo estrelar
lá no fundo da curva de gelo
jorre invectivas caligramas riquezas, sim,
mas o que será da neve dos pinheiros
daquilo que não está e está lá, no fundo?
|
5. Amelia Rosselli
Contiamo infiniti
cadaveri. Siamo l’ultima specie umana.
Siamo il cadavere che
flotta putrefatto su della sua passione!
La calma non mi
nutriva il sol-leone era il mio desiderio.
Il mio pio desiderio
era di vincere la battaglia, il male,
la tristezza, le
fandonie, l’incoscienza, la pluralità
dei mali le fandonie,
le incoscienze le somministrazioni
d’ogni male, d’ogni
bene, d’ogni battaglia, d’ogni dovere
d’ogni fandonia: la
crudeltà a parte il gioco riposto
attraverso il filtro
dell’incoscienza. Amore amore che
cadi e giaci supino
la tua stella è la mia dimora.
Caduta sulla linea di
battaglia. La bontà era un ritornello
che non mi fregava ma
ero fregata da essa! La linea di
demarcazione tra poveri
e ricchi.[9]
|
Contamos infinitos cadáveres. Somos a última espécie humana.
Somos o cadáver que flutua putrefato sobre uma sua paixão!
A calma não me alimentava o sol-leão era o meu desejo.
Meu pio desejo era de vencer a batalha, o mal,
a tristeza, as lorotas, a falta de consciência, a pluralidade
dos males, as lorotas, as faltas de consciência as subministrações
de todo mal, de todo bem, de toda batalha, de todo dever
de toda lorota: a crueldade à parte o jogo reposto
através do filtro da insconsciência. Amor amor que
cais e jazes supino a tua estrela é minha moradia.
Caída na linha de batalha. A bondade era um refrão
que não me ludibriava mas o era por ela! A linha de
demarcação entre pobres e ricos.
|
6. Sandro Penna
Il mare è tutto azzurro.
Il mare è tutto calmo.
Nel cuore è quasi un urlo
di gioia. E tutto è calmo. (1937)
È pur dolce il ritrovarsi
per contrada sconosciuta.
Un ragazzo con la tuta
ora passa accanto a te.
Tu ne pensi alla sua vita
– a quel desco che l’aspetta.
E la stanca bicicletta
ch’egli posa accanto a sé.
Ma tu resti sulla strada
sconosciuta ed infinita.
Tu non chiedi alla tua vita
che restare ormai com’è. (1939) [10]
|
O mar é todo azul.
O mar é todo calmo.
No imo é quase um urro
de alegria. E tudo é calmo. (1937)
É doce no entanto o reencontrar-se
em rincão desconhecido.
Um rapaz de macacão
passa agora ao teu lado.
Tu pensas na sua vida
– na mesa posta que o espera.
E na exausta bicicleta
que ele encosta junto a si.
Mas tu ficas no caminho
desconhecido e sem fim.
Tu só pedes à tua vida
Pra ficar como já é. (1939)
|
______________________
Como citar: BERNARDINI, Aurora Fornoni. “Seis poetas italianos”. In "Literatura Italiana Traduzida", v.1., n.8, ago. 2020. Disponível em:
https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/210272
[1] BERARDINELLI, Alfonso. La
poesia verso la prosa. Controversie sulla lirica moderna. Torino: Bollati
Boringhieri, 1994.
[2] BERARDINELLI, Alfonso. Poesia
e non poesia. Torino: Einaudi, 2008.
[3] BERARDINELLI, Alfonso; CORDELLI, Franco. Il pubblico della poesia. Roma: Casrelvecchi, 2015.
[4] BERARDINELLI, Alfonso. Da
poesia à prosa. Maria Betânia Amoroso (org.). Trad. Mauricio Santana Dias.
São Paulo: Cosac Naify, 2007.
[5] De: SERENI, Vittorio. Gli strumenti umani. Torino: Einaudi, 1965.
[6] De: FORTINI, Franco. Questo
muro. Milano: Arnoldo Mondadori, 1973.
[7] De: PASOLINI, Pier Paolo. Poesia
in forma di rosa. Milano: Garzanti, 1962.
[8] De: ZANZOTTO, Andrea. La
beltà. Milano: Mondadori, 1968.
[9] De: ROSSELLI, Amelia. Variazioni
beliche. Milano: Garzanti, 1964.
[10] De: PENNA, Sandro. Tutte le
poesie. Milano: Garzanti, 1970.
- Gerar link
- X
- Outros aplicativos